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domingo, 7 de agosto de 2011

Final

Na reta final do primeiro turno a pesquisa IBOPE indicava o Governador reeleito já no primeiro turno. Pesquisa encomendada pela afiliada da rede Globo. Guarde esta informação ela será importante no futuro. No mesmo ensejo, outro instituto de pesquisa, o Proconsult, contratado pelo Sistema Correio, indicava vitória por ampla vantagem também do Governador.

No dia da eleição, todos na redação trabalharam. eu fiquei no meu horário normal, coincidentemente o horário da apuração. Quando cheguei, a redação estava cheia. Todos apreensivos. Aquele meu chefe suava e não parava de descer para a portaria para fumar.

O apresentador do Correio Debate balançava cabeça negativamente. Os telefones não paravam de tocar e a voz do outro lado sempre parecia de alguém importante, sempre perguntando por ele, o chefe. E ele sempre dizia coisas como 'parece que vamos perder' e suas variações.

O motivo do receio foi que as urnas não deram a resposta das pesquisas. na verdade, quase que o Prefeito vence já no primeiro turno. Já na segunda o clima era diferente. Ainda antes do segundo turno, um alto executivo do Sistema Correio foi agraciado com uma pasta dentro da prefeitura. Além disso, a relação do Prefeito com o Sistema Paraíba estava arranhado depois que a tal pesquisa IBOPE colocava o Governador como vencedor no primeiro turno.

Nada disso impediu que durante o segundo turno, no debate da Tv Correio, a torcida dos eleitores do Prefeito gritasse 'ão, ão, ão, Sistema...’ finalizando com o nome do Governador. Fazendo alusão a elação mais que íntima. O que aquelas pessoas não sabiam é que uma enorme mudança já estava em curso. Um giro que completaria 180 graus ao final das eleições já estava sendo dado.

Algumas alterações de impacto aconteceram. O apresentador do programa da manhã foi imposto. Não por acaso ele é hoje o nome forte do jornalismo da empresa. É o coordenador do radiojornalismo e em parceria com alguns outros caciques do Sistema Correio, lançou uma revista sobre política.

O tal apresentador é intimamente ligado ao maior aliado do Ex-prefeito, agora Governador. Trata-se do Senador eleito, cassado pela Lei Ficha Limpa e recolocado no senado pelo Supremo Tribunal Federal.

Um dos colunistas do jornal impresso e também comentarista político da rádio pediu demissão. Foi substituído nas duas funções por outro personagem próximo ao novo Governador, antigo Prefeito. Por outro lado, os antigos governistas foram todos varridos do Sistema Correio. Além do colunista já citado, um dos apresentadores do Correio Debate, o antigo diretor da rádioe meu antigo chefe de redação migraram todos para o Sistema Paraíba.


FIM

sábado, 6 de agosto de 2011

Parte III

Eles eram quase como anexo do departamento comercial. Inclusive os chefes da comunicação do Governo saíram dos cargos de chefia da redação do Correio da Paraíba. Não que a proximidade tenha sido revertida em verbas com publicidade. Uma das críticas feitas nos bastidores era que o Governo do Estado teria sido mal agradecido com o Sistema Correio, já que reverteu a maior parte de sua verba publicitária para o Sistema Paraíba (que congrega uma rede de rádio em toda a Paraíba, um jornal impresso e duas afiliadas a rede Globo, uma na capital e outra em Campina Grande) que não vestia a camisa com o afinco da Correio.

Para finalizar esse parêntese, uma dessas pessoas voltou ao Sistema Correio. Hoje faz parte do conselho editorial do jornal e editora de texto do Correio Debate, um programa político da casa. A outra, ninguém sabe, ninguém viu.

A Paraíba possui afiliadas a todas as grandes redes de TV do país. Globo, Band, SBT, Record, Rede TV. Todas com programação local e retransmissoras no estado. Durante o primeiro turno das eleições, apenas uma delas não produziu um debate televisivo. O motivo?

O governador compareceu apenas ao primeiro debate, na TV Clube, do grupo do primeiro "Cidadão Kane' da comunicação brasileira, o falecido Assis Chateaubriand, retransmissora da Band em João Pessoa e do SBT em Campina Grande. Ou demais candidatos eram de PSTU, PSOL, PCO, além do prefeito, candidato pelo PSB. A esquerda não desperdiçou a oportunidade e massacrou os dois candidatos do poder. Porém, o prefeito era mais hábil com as lentes das câmeras e conseguia direcionar a maioria das críticas para o governador.

Os partidos menores embarcavam nessa e o debate tornou-se um interrogatório ao governador. Traumatizado, o mesmo não apareceu em nenhum outro debate no primeiro turno. Não fazia sentido então fazer um debate que servisse de palanque para a crítica ao governo, como acabou acontecendo nos debates das TV's Tambaú (SBT), Cabo Branco (Globo) e Arapuã (Rede TV).


Continua...

Parte II

Encontrei um homem negro, alto, gordo. Ele pegou meu currículo e foi logo dizendo que não tinha vaga para repórter, mas que poderia surgir uma vaga na produção. Perguntou se me interessava. Respondi que sim. Ele disse qual o salário e o tempo de serviço e que quando surgisse a vaga me avisaria.

Voltei para casa achando que também não receberia o telefonema. Estava enganado. Menos de uma semana depois ele me liga, pede que eu vá a redação. Fui. Na redação ouvi o que jamais pensei sair da boca de um chefe de redação, aquelas coisas que você sabe, mas não escuta. E foi assim, na lata.

- Olha aqui é o seguinte, a gente tem um acordo com o governo, então tudo o que for contra o governador a gente esconde. Já sobre a prefeitura devemos criticar tudo, de problemas na comunidade a postos de saúde sem atendimento.

Eu simplesmente ouvi.

Com a chegada do período eleitoral, o tom ficou, curiosamente, mais brando. Acontece que neste período a justiça eleitoral costuma ser mais incisiva com partidarismo escancarado da imprensa. Vale lembrar que o pleito pelo cargo máximo do Estado colocaria frente a frente exatamente Governador e Prefeito.

Mesmo que as denúncias contra a prefeitura tenham amenizado, a emissora, por outro lado, cobria cada nova inauguração do Governo do Estado. A relação era tão íntima que os assessores ligavam para a redação não para informar do evento tal e sim para perguntar se o evento em questão já estava na capa de pauta.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sobre o fazer jornalístico ou um ano na grande caixa das ilusões

Quando cheguei a João Pessoa, meus planos eram outros. Terminar o TCC e tirar o resto do ano (entre maio e dezembro, ainda em 2010) para estudar para o mestrado em Serviço Social. No fim de abril percebi que o dinheiro estava indo embora rápido demais e precisava fazer alguma coisa para garantir as contas em dia.

Primeiro entreguei currículos em sindicatos, na sede da CUT, mandei emails para professores ligados a ONG's, movimentos sociais, outros sindicatos, pastorais sociais, mas não encontrei nenhuma resposta positiva. Então foi bater na porta da grande imprensa.

Minha companheira tinha um contato no Correio da Paraíba. Levei o currículo e entreguei ao editor de cidades do jornal, junto com cópias de algumas matérias que escrevi no jornal alagoano Tribuna Independente, inclusive uma entrevista com o Governador Teotônio Vilela. Ele disse que entraria em contato. Não recebi qualquer ligação.

O dinheiro continuava acabando e meu pai sempre me lembrava de um amigo dele, editor da rede Record, que poderia conseguir uma entrevista com a afiliada da cidade. Resolvi aceitar. Trocamos email's algum tempo e ele me passou o nome de quem eu deveria procurar.

No dia seguinte fui a Tv Correio. Sim, o tentáculo televisivo da qual fazia parte também o jornal impresso que visitara antes e que não me deu qualquer resposta.


Continua...

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Sobre a ficção e a realidade (ou o Rio de Janeiro continua lindo?)

Ao som de Gilberto Gil quero confidenciar o óbvio: o aqui escrito não é, nem perto, ou longe, o melhor, ou mais embasado, ou mais qualquer coisa, 'textículos' sobre os últimos acontecimentos no Rio de Janeiro.

Também não será aqui o lugar onde o caro leitor, ou a digníssima leitora, encontrará a melhor resenha do filme Tropa de Elite 2. Não que seja lá muito complexo o tal filme, o problema é agradar a todos os fregueses...

O filme de José Padilha é incrivelmente crítico para os padrões Globo Filmes. Contra o 'sistema', tem o personagem mais limpo, o Fraga, aquele praticamente sem defeitos, baseado no deputado Marcelo Freixo do Psol, isso do Psol.

Não poupa palavras para descer o cacete nos programas policiais, conhecidos por seus rabos presos frente ao poder público e bajuladores das políticas de segurança pública de extermínio de pobres. Aqui, um breve parêntese. A Globo que se diferenciava frente aos adversários da audiência neste quesito, fez exatamente o mesmo papel na cobertura da invasão das comunidades cariocas.

Mas, afinal, do que o escrito aqui quer falar? Ora, já deve estar óbvio que o óbvio pretendo: mostrar como a realidade e a ficção são parecidas, com a diferença que na ficção os mosrtos vão tomar uam cerveja depois do trabalho, na vida real, temos mães, filhos, esposas, chorando a morte de um seu, um teu.

A cena orquestrada pela polícia carioca na semana passada lembra, não, é quase idêntica aquela do filme, aquela em que o Matias acaba morto quando descobre que a ação da polícia não tem como fim prender ou matar traficante, mas sim abrir espaço para um poder mais complexo, poder que não trabalha apenas tendo o, como diria Freixo, varejo da droga como fim, mas como umas das várias possibilidades de estorquir a comunidade.

A polícia que recebe o segundo pior salário do país, perdendo apenas para os "heróis" das minhas Alagoas, quer nos convencer que não é corrupta. É. Sendo corrupta, obviamente irá tirar proveito da nova situação, da emergência da construção da cidade olímpica, ou seja, aquela que está sendo "construída" ou "limpa" para os jogos de 2014 e 2016, retirando os traficantes das proximidades dos locais onde os jogos acontecerão. A construção de muro em favelas foi o primeiro passo, agora é a remoção de varejistas das drogas, depois serão os probres...

Voltando ao local onde nasceu e cresceu o imperador Adriano, também conhecido como Vila Cruzeiro, agora sem os traficantes, quem vai oferecer o 'gato' de água, luz, tv a cabo? Será que ninguém vai querer levar um do transporte alternativo? Será que o filme está tão longe assim da realidade?

A pergunta 'porque depois das eleições?' não passa pela sua cabeça? Terá sido ao acaso? Não somos tão idotas assim. Enquanto isso, temos casas invadidas por políciais que não pedem licença, pessoas esperando horas para voltarem a sua casa, clima de terror, crianças sem escola, mães sem água...

Capitão Nascimento, no filme, alcança a lógica do sistema. Percebe que não adianta matar um, dois ou trinte e poucos traficantes, na verdade, isso pode ser pior, aquilo que virá depois poe ser maior, mais forte. O negócio é destruir o sistema.

Aquele que olha a obra de Padilha tendo apenas os dois Tropas como objeto, talvez não compreendam o amadurecimento do tema segurança públlica em sua filmografia, talvez achem muito acelerada a mudança de ponto de vista de um filma para outro, alguns até acham que tudo não passou de um pedido de desculpas a esquerda, depois de sido chamado por esta de fascista, em uma infantil confusão obra-autor.

Provavelmente a melhor maneira de entender a obra de Padilha seja incluindo o filme Onibus 174 aos Tropas de Elite. O filme em questão é um documentário que narra a trajetória de um jovem que sequestrou um ônibus. O documentário tenta mostrar a situação partindo do ponto de vista do sequestrador, tentando entendê-lo. Ali também estão presentes todos os personagens dos outros filmes: polícia, espetacularição da mídia e vários outros ingredientes e um fim trágico.


Talvez assim possamos entender o caminhio feito por Padilha. Começando com o assaltante, jovem infrator, vítima de todas as mazelas que as populações pobres sofrem, depois, o policial treinado a exaustão, frio, preparado para matar, com um código de ética baseado na morte de traficantes. Por último, a visão completa, o olhar do todo, a visão de que o problema não está de um lado ou de outro, mas sim no sistema.


Para terminar, acho engraçado ouvir repórter dizer que tudo voltou ao normal nos locais onde a polícia invadiu e matou usando colete a prova de balas. Sinceramente, não consigo parar de pensar nas palavras de um homem que me ligou no trabalho querendo estabelecer justiça para um amigo preso, segundo ele, injustamente. As palavras "quando a polícia chega aqui não quer saber de nada, se é ou não trabalhador, só quer saber de bater, prender o primeiro que encontrar na rua". Quem veio da periferia sabe porque "gambé" não é bem vindo na perifa. Não venham me dizer que a população das comunidades está feliz com a presença daqueles que os humilham diaramente, ou não sou otário.