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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Sobre a ficção e a realidade (ou o Rio de Janeiro continua lindo?)

Ao som de Gilberto Gil quero confidenciar o óbvio: o aqui escrito não é, nem perto, ou longe, o melhor, ou mais embasado, ou mais qualquer coisa, 'textículos' sobre os últimos acontecimentos no Rio de Janeiro.

Também não será aqui o lugar onde o caro leitor, ou a digníssima leitora, encontrará a melhor resenha do filme Tropa de Elite 2. Não que seja lá muito complexo o tal filme, o problema é agradar a todos os fregueses...

O filme de José Padilha é incrivelmente crítico para os padrões Globo Filmes. Contra o 'sistema', tem o personagem mais limpo, o Fraga, aquele praticamente sem defeitos, baseado no deputado Marcelo Freixo do Psol, isso do Psol.

Não poupa palavras para descer o cacete nos programas policiais, conhecidos por seus rabos presos frente ao poder público e bajuladores das políticas de segurança pública de extermínio de pobres. Aqui, um breve parêntese. A Globo que se diferenciava frente aos adversários da audiência neste quesito, fez exatamente o mesmo papel na cobertura da invasão das comunidades cariocas.

Mas, afinal, do que o escrito aqui quer falar? Ora, já deve estar óbvio que o óbvio pretendo: mostrar como a realidade e a ficção são parecidas, com a diferença que na ficção os mosrtos vão tomar uam cerveja depois do trabalho, na vida real, temos mães, filhos, esposas, chorando a morte de um seu, um teu.

A cena orquestrada pela polícia carioca na semana passada lembra, não, é quase idêntica aquela do filme, aquela em que o Matias acaba morto quando descobre que a ação da polícia não tem como fim prender ou matar traficante, mas sim abrir espaço para um poder mais complexo, poder que não trabalha apenas tendo o, como diria Freixo, varejo da droga como fim, mas como umas das várias possibilidades de estorquir a comunidade.

A polícia que recebe o segundo pior salário do país, perdendo apenas para os "heróis" das minhas Alagoas, quer nos convencer que não é corrupta. É. Sendo corrupta, obviamente irá tirar proveito da nova situação, da emergência da construção da cidade olímpica, ou seja, aquela que está sendo "construída" ou "limpa" para os jogos de 2014 e 2016, retirando os traficantes das proximidades dos locais onde os jogos acontecerão. A construção de muro em favelas foi o primeiro passo, agora é a remoção de varejistas das drogas, depois serão os probres...

Voltando ao local onde nasceu e cresceu o imperador Adriano, também conhecido como Vila Cruzeiro, agora sem os traficantes, quem vai oferecer o 'gato' de água, luz, tv a cabo? Será que ninguém vai querer levar um do transporte alternativo? Será que o filme está tão longe assim da realidade?

A pergunta 'porque depois das eleições?' não passa pela sua cabeça? Terá sido ao acaso? Não somos tão idotas assim. Enquanto isso, temos casas invadidas por políciais que não pedem licença, pessoas esperando horas para voltarem a sua casa, clima de terror, crianças sem escola, mães sem água...

Capitão Nascimento, no filme, alcança a lógica do sistema. Percebe que não adianta matar um, dois ou trinte e poucos traficantes, na verdade, isso pode ser pior, aquilo que virá depois poe ser maior, mais forte. O negócio é destruir o sistema.

Aquele que olha a obra de Padilha tendo apenas os dois Tropas como objeto, talvez não compreendam o amadurecimento do tema segurança públlica em sua filmografia, talvez achem muito acelerada a mudança de ponto de vista de um filma para outro, alguns até acham que tudo não passou de um pedido de desculpas a esquerda, depois de sido chamado por esta de fascista, em uma infantil confusão obra-autor.

Provavelmente a melhor maneira de entender a obra de Padilha seja incluindo o filme Onibus 174 aos Tropas de Elite. O filme em questão é um documentário que narra a trajetória de um jovem que sequestrou um ônibus. O documentário tenta mostrar a situação partindo do ponto de vista do sequestrador, tentando entendê-lo. Ali também estão presentes todos os personagens dos outros filmes: polícia, espetacularição da mídia e vários outros ingredientes e um fim trágico.


Talvez assim possamos entender o caminhio feito por Padilha. Começando com o assaltante, jovem infrator, vítima de todas as mazelas que as populações pobres sofrem, depois, o policial treinado a exaustão, frio, preparado para matar, com um código de ética baseado na morte de traficantes. Por último, a visão completa, o olhar do todo, a visão de que o problema não está de um lado ou de outro, mas sim no sistema.


Para terminar, acho engraçado ouvir repórter dizer que tudo voltou ao normal nos locais onde a polícia invadiu e matou usando colete a prova de balas. Sinceramente, não consigo parar de pensar nas palavras de um homem que me ligou no trabalho querendo estabelecer justiça para um amigo preso, segundo ele, injustamente. As palavras "quando a polícia chega aqui não quer saber de nada, se é ou não trabalhador, só quer saber de bater, prender o primeiro que encontrar na rua". Quem veio da periferia sabe porque "gambé" não é bem vindo na perifa. Não venham me dizer que a população das comunidades está feliz com a presença daqueles que os humilham diaramente, ou não sou otário.

sábado, 6 de novembro de 2010

Ainda as eleições

O Brasil, ou os brasileiros, ou uma parcela significativa destes, fez história no último 31 de outubro. Não tenho certeza se fez realmente história, com h. Ou se fez estória, com e. Ou se caiu no conto do vigário.

Digo isto porque acredito que a primeira reflexão a ser tirada da eleição de Dilma Rousseif para presidente, é a construção midiática do ineditismo. Desde que recomeçamos, ou não, a escolher nossos representantes pelo voto direto, todos os membros do poder maior foram retratados pela grande mídia como o novo, o único, o primeiro, ou seja, o inédito.

O 'alago-carioca' Fernando Collor de Mello foi o primeiro por ser o primeiro. Eleito prometendo derrubar marajás, caiu após escândalos sucessivos. Assumiu o vice, Itamar Franco, que não entra na conta por não ter sido votado. Então veio Fernando Henrique Cardoso, FHC para os íntimos, o primeiro vindo das fileiras da academia, um intelectual para dirigir o Brasil, o sinônimo do voto consciente, era o primeiro por ser o maior, o mais qualificado, o mais alto, o mais merecedor. Quanto engano.

Por último veio Luis Inácio Lula da Silva, o primeiro por ser filho dos últimos, o ditado cristão feito verdade, sendo primeiro, do povo, operário, forjado nas melhores lutas que não vimos, de dedo perdido no trabalho metódico, um ‘primeiro-igual’. Será? Seria? Sei não.

Não foi muito diferente agora. Imagine como seriam as manchetes caso José Serra tivesse levado o pleito. Talvez o apelo seria para, sei lá, ‘o primeiro careca’, não sei. Para ‘a escolhida do Lula’, a manchete era datada, óbvio, bastaria mudar o artigo. Agora, não seriam mais 'os' primeiros, mas sim 'a' primeira.

O interessante é que embarcamos nisso. Ou nessa. O slogan de 'first woman' prevaleceu.

No fim, compramos a idéia, a mercadoria foi aceita e muita gente instruída votou na mulher por ela ser mulher, usando um critério desprovido de razão política, propositivamente falando.

Não que ser mulher seja um problema, mas o adjetivo precisa, no mínimo, ser complementado: 'ela é mulher e ...' O discurso foi tão forte que a candidata Marina Silva,que terminou o pleito em terceiro lugar, ocupou seu horário na TV nos últimos dias da campanha revezando entre aparições de artistas e pedidos do tipo: "vamos colocar duas mulheres no segundo turno".

Mas duas mulheres em nome de que e de quem? Delas? Quais os interesses? E não me venham dizer que o machista é este que vos escreve. São elas que colocam uma certa ‘sensibilidade feminina’ instinto-natural de todas as mulheres na roda. Não apareceu em nenhum dos programas das candidatas o fato de mulheres receberem menos que homens fazendo o mesmo serviço, por exemplo.

Na verdade, a propaganda vencedora chegou a mostrar mulheres em serviços antes ocupados apenas por homens, mas o material mais parecia uma matéria do Jornal Nacional. Não falava do preconceito sofrido ou da dupla jornada: trabalha durante o dia, cuida da casa durante a noite. Nada disso.

A primeira mulher mudou apenas o artigo. Uma pena.


A igreja e o aborto

Quando o primeiro turno estava perto do fim e as eleições presidenciais pareciam decididas, eis que um tema toma conta da campanha e dos noticiários: o aborto.
A tese central afirmava que Marina Silva e sua aproximação aos envagélicos levaram a decisão para o segundo turno. Não sei bem quem comprou a história, quem foi o ovo ou a galinha, mas sabemos que um arsenal de conteúdo ia ao ar todos os dias com Dilma lembrando que não era favorável ao aborto, visitas da futura presidente a Igrejas, templos e afins....

A religião também era o foco das perguntas feitas a ‘mineira-gaúcha’. O Jornal Nacional praticamente girava seu conteúdo político em torno de dois enfoques: Serra aparecia propondo, Dilma se defendendo. Uma nojeira.

E não parou ai. A Paraíba virou manchete nacional quando o Arcebispo da Arquidiocese do Estado, Aldo Pagotto, apareceu em um vídeo pedindo para os fiéis não votarem em Dilma. Outro parêntese religioso das eleições paraibanas foram os panfletos apócrifos. Neles, o Governador eleito Ricardo Coutinho era chamado de satanista e algumas das estátuas localizadas em praças seriam homenagens ao ‘demo’.

É no mínimo triste. Um belo punhado de problemas na ordem do dia necessitando de atenção e debate e foi a questão religiosa, a defesa da família e da vida, seja lá o que queriam dizer com isso, que deram o tom do debate.

Pastores aparecendo no guia, emails, e tele-mensagens contra, e a candidata do presidente não colocou os pingos nos is, não segurou as bandeiras históricas das mulheres e do maior partido de massas da América Latina recente. Ela e o PT jogaram no lixo anos de debates e de proposições sobre o tema, jogaram no lixo as milhares de militantes que defendem até hoje sua candidatura e mandato.

O PT venceu as eleições. Em troca jogou mais uma pá de merda na sua bandeira, na sua história.


Os debates

Dos debates do primeiro turno, salvou-se o primeiro, na Band, graças a Plínio de Arruda Sampaio. O bom velhinho apareceu tanto que virou rit no twitter, ocupou espaço no JN, virou tema de textos em blogs direitosos, vide Reinaldo Azevedo. Deve ter pertubado um bocado. Foi o destoante.

Depois, nada muito atrativo. Plínio perdeu a mão nos outros debates, o discurso já não era novidade, foi engolido pela caricatura de bizarro que fizeram, o discurso coerente e de denúncia não se transformou em votos, nem os demais debates conseguiram a repercussão do primeiro.

Os outros candidatos pareciam compadres. No ‘olhômetro’ e no ‘conversômetro’, parece que Marina foi pegando o jeito com o passar dos debates. Deixou de ser a tia boazinha para se tornar a alternativa dos que queriam sair do plebiscito. Neste sentido, se saiu melhor que Heloísa Helena em 2006, talvez por ter um discurso mais dentro da ordem.

No segundo turno os debates foram tiroteios. No primeiro, mais uma vez na emissora dos turcos, Dilma era firme, falava forte, e trouxe Paulo Preto. Entendeu que quem estava vendo o debate eram aqueles que liam jornais e acompanhavam blogs políticos, ou seja, falou para eles. Foi bem.

José Serra era melhor. Foi assim em todos os outros embates. Mas não o suficiente para alargar a diferença para a petista, nem tão melhor a ponto de humilhá-la. Foi impressionante como em tão pouco tempo Dilma ganhou o tato com as câmeras, exceto no último debate, na Globo, quando teve que lhe dar com o público, num debate mais, digamos, leve.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

As eleições paraibanas

Pela primeira vez fiz uma cobertura jornalística das eleições. Estou trabalhando em uma TV paraibana que faz parte do maior conglomerado de mídia do Estado, o sistema Correio, dono de jornal impresso, portal na web, rádios am e fm espalhadas por toda a Paraíba, além, lógico, da já citada TV.

No primeiro turno a redação estava cheia quando cheguei, por volta das 6 da noite. Alguns editores, produtores e repórteres se espremiam para ouvir cada passo da apuração que, segundo as pesquisas de opinião, inclusive a boca de urna do IBOPE da Globo colocava o candidato da TV como vencedor já no primeiro turno.

Quando os resultados foram saindo e as pesquisas foram sendo rasgadas, o clima na sala mudou. O editor chefe batia na mesa e o telefone não para de tocar. Todas as vezes eram pessoas com aquele tom de voz superior perguntando por ele, o editor chefe. Todas as vezes ele atendia, fala baixinho, e um tom de preocupação tomava sua face.

A mesma aparência era percebida no rosto do apresentador do programa político da emissora. Sim, a emissora tem um programa político diário de 30 minutos cujo objetivo é denunciar a prefeitura e falar bem do Governo do Estado. Nada mais justo, já que a secretária de Estado da Comunicação é nada mais, nada menos que a editora chefe do jornal impresso do sistema.

Os votos seguiam sendo apurados e o candidato opositor virava o jogo e colocava clara possibilidade de eleição já no primeiro turno. Os ânimos se exaltaram. O tal chefe de reportagem não aguentou e desceu para fumar um cigarro. O apresentaddor suava e só repetia "ele vai ganhar, ele vai ganhar".

O chefe voltou, pediu cachorro-quente para todos com Coca-cola e Guarana Antártica, a apuração também acabou e as eleições seriam definidas em segundo turno.

Aqui, um vídeo sobre o primeiro turno na Paraíba
(http://www.youtube.com/watch?v=chjDj_Lt4hs)


Cassio Cunha Lima


Provavelmente a grande polêmica das eleições paraibanas seja a união feita entre Ricardo Coutinho e Cassio Cunha Lima. Expliquemos: Ricardo Coutinho, ou o mago como é conhecido, construiu sua biografia no campo das lutas sociais. Foi sindicalista e militante do PT por muitos anos, foi eleito vereador e deputado, na ocasião o mais votado da história, pelo partido de Lula. Depois, graças a divergências internas, saiu do PT e filiou-se ao PSB.

O ex-governador Cassio Cunha Lima é mais um daqueles descendentes da velha política que se estabeleceu especialmente na região nordeste. Filhos de políticos da região de Campina Grande, começou por aquelas bandas suas investidas até se tornar o político mais influente da Paraíba de nossos dias. Filiado ao PSDB, era atacado pelos aliados de José Maranhão, principal representante do outro lado da oligarquia, pelos congressitas mais progressitas, tais como o deputado reeleito Luiz Couto, e, até então, Ricardo Coutinho. Os mais de 1 milhão de votos para senador e vitória de Ricardo Coutinho para o governo no segundo turno mostram que aqueles que acharam acertado, do ponto de vista eleitoral e não do ponto de vista idelógico, a tal união ganharam a aposta.

Mas, a história de Cassio nessas eleições não param ai. Ele ainda espera seu recurso no STF ser julgado para saber se pode ou não tomar posse como Senador. A saber, Cassio foi enquadrado na lei Ficha Limpa por questões de abuso do poder econômico enquanto era governador.

O que sequestiona nos bastidores é: até quando durará essa amizade? Muitos acreditam que o Mago deve botar Cassio para correr assim que tiver uma oportunidade. Outros acham mais provável que Ricardo aproveite o máximo essa relação para trazer deputados que hoje estariam na oposição para o seu lado. Tem ainda aqueles que acreditam em amizade sincera e parceria duradoura. Veremos.


O nosso tiririca?

Qualquer um que viesse a João Pessoa antes do íncicio da campanha eleitoral, provavelmente passaria por um dos cartões postais da cidade e nem notaria naquele homem distribuindo sopa. Pois é. Até junho desse ano, Toinho do sopão, antes conhecido como Toinho do bolo, ficava durante as tardes nas proximidades do Parque Solon de Lucena, a lagoa, distribuindo sopa, antes bolo, e pedindo uma contribuição, de qualquer quantia, para manter, digamos, aquela ação social.

Era um trabalho bonito e gostoso. Bonito porque alimentava a, talvez, única vez no dia alguns dos moradores de rua da região do centro da cidade. Gostoso porque quem tomou da sopa diz que é muito boa, obrigado. Ali estava Toinho, todas as tardes com seu megafone pedindo uma contribuição para manter aquele trabalho voluntário, um gesto bontio, mas despercebido de todos. Será? O dia 3 de outubro mudará para sempre a vida daquele homem. Ele deixou de ser o 'o homem da sopa' para tornar-se o deputado estadual mais votado da história da Paraíba, superando a marca que era de Ricardo Coutinho.

Como explicar que um homem simples, sem muitas afinidades comos grupos do poder, que gastou, segundo ele, 5 mil reais na campanha e que a fez apenas na capital, possa ter sido tão bem votado? Sem qualquer rigor científico, colocarei minha avaliação.

Claramente, esse não é um voto ideologizado ou programático. Toinho do Sopão não representa um projeto político, uma concepção de Estado e de seu papel, não. Ele é um homem que distribui sopa e que, igenuamente falando, pretende ampliar a distribuição de sopa para toda a Paraíba. Isso não é um projeto, é, vá lá, uma causa nobre. Propor alimentar toda a população quando a miséria ainda é recorrente, mas veja, ela não fala em nome de qualquer entidade de classe organizada, fala em nome dele, de sua experiência e de seu trabalho.

Também tenho problemas com a avaliação superficial do tal 'voto de protesto'. Pelo que entendi, o tal voto de protesto coloca o eleitor como um questionador do processo eleitoral e, de certa maneira, ao discordar de tudo o que vê, vota no bizarro, no esdrúxulo. Primeiro, acho que não podemos homogeneizar uma votação tão expressiva, foram quase 60 mil votos.

A grosso modo, acredito que o processo eleitoral e a escolha de Toinho do Sopão se deu muito mais no vácuo na despolitização do processo eleitoral. A cada que passa, as eleições brasileiras ganham mais e mais uma cara personalista e não programática. São pessoas que vão e podem fazer e não um complexo processo de negociação e articulação que leva a vitória, ou, simploriamente, a disputa de programas. No caso do legislativo isso é ainda mais grave. O eleitor, na onda do personalismo, vota no candidato mais confiável, ou mais próximo do seu dia a dia, ou que oferece a melhor barganha (um emprego, dinheiro, alimento, etc).

Por isso, não concordo com o tal protesto, nem com a plena consciência do voto 'no homem que vende sopa na lagoa'. O protesto deveria vir acompanhado de uma resposta ao processo eleitoral e ao sistema, algo que não percebo nas ruas. O voto 'consciente' também carece de reflexo no real. O próprio Toinho do Sopão resolveu apoiar um determinado candidato no segundo turno em troca de barganhas, dois dias antes tinha dito que apoiava o outro candidato. Resultado, recebeu a ordem de seu partido para fechar o bico.


E a esquerda?

A Paraíba entrou nas eleições com quatro candidatos de partidos de esquerda. O professor Nelson Júnior pelo Psol, Chico Oliveira no PCB, Lourdes Sarmento, candidata folclórica do PCO e Marcelino pelo PSTU.

Foram dois debates em TV aberta para todo o Estado onde os quatro tiveram a oportunidade de discutir o programa socialista e suas bandeiras. Um espaço único para colocar na ordem do dia as questões normalmente esquecidas pela grande mídia. Infelizmente, praticamente todo o tempo desses debates foi usado para atacar os candidatos do poder, a saber, José Maranhão e Ricardo Coutinho.

Não que o ataque as alianças escusas e as políticas conservadoras devam ser deixadas de lado. Não que os maus tratos do funcionalismo e o extermínio nas periferias devam ficar em silêncio, nada disso. Mas não adianta voar nas nuvens e esquecer que a conversa é com uma parcela da população.

Os candidatos eram ruins de vídeo e não conseguiam trazer o ideal de socialismo para o real. O Ressalvas feitas a Nelson Junior que mesmo com a apresentação de um programa mais rebaixado, conseguiu dialogar com alguns setores, mesmo sem o seu partido ter lá muita influência no movimento estudantil e ele ser uma figura pública nova.

Outro ponto para a esquerda foi o guia do PSTU. Sem muito recurso, com off e textos feitos pelos próprios militantes, o programa ficou redondo, no ponto, falando de grandes temas como racismo, educação, violência contra as mulheres, sempre trazendo números locais, aproximando o público das idéias. Além disso, o PSTU nacional já deve estar de olho em Carlisson, candidato a deputado que recebeu quase 2 mil votos, sendo mais votado que o candidato de seu partido ao governo. O garoto, membro da atual gestão do DCE e do CA de letras da UFPB, fez da universidade seu reduto eleitoral e se saiu bem. Talvez devesse servir de exemplo para os operários do partido que não conseguem receber o voto de confiança nem de seus companheiros de chão de fábrica.

Ainda sobre a esquerda, precisamos ver como os movimentos organizados reagirão após a eleição de Ricardo Coutinho. Quando ainda era prefeito, o mago construiu shopping popular e mandou tirar os camelôs das ruas. Com a insistências dos trabalhadores, na manutenção do local de trabalho, Ricardo não titubeou em mandar a polícia fazer o serviço. Mesmo assim, a maioria dos movimentos sociais tem uma relação de proximidade com Ricardo. Um exemplo está na Associação de rádios comunitárias da Paraíba (ABRAÇO-PB). Em uma conversa com um dos dirigentes da entidade, descobri que muitos membros da mesma fazem parte da militância do PSB e, lógico, ainda confiam em Ricardo. O mesmo acontece com a CPT, onde a maioria dos dirigentes está próxima a Luiz Couto, deputado eleito pelo PT e muito próximo a Ricardo Coutinho, mesmo nessas eleições, quando o vice de José Maranhão era do PT, Couto, ao final do resultado do primeiro turno, foi até o comitê do mago lhe dar os parabéns.

Esses são os questionamentos que devemos responder no próximo período: como colocar esses e muitos outros movimentos no campo da oposição ao futuro governo? Como construir uma unidade dos campos que constroem a esquerda paraibana em torno de um programa que se proponha a forçar os limites impostas pela conjuntura atual?

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sobre as eleições

As pesquisas davam como certa a vitória de Heloísa Helena. As urnas a deixaram de fora do Congresso e colocaram dois típicos políticos nordestinos, a saber, Renan Calheiros e Benedito de Lira. Renan parecia cartada certa, seu "curral eleitoral" é enorme no Estado, seus aliados, prefeitos e "mandantes" do interior, sempre estiveram em bom número. Coube a 'Biu' de Lira o papel sujo, atacar HH com todo o poder que a indústria da propaganda é capaz de comprar.

O personagem Cabeça, um desenho animado com sotaque de sertanejo, foi a ferramenta usada para atacar a líder do PSol de todas as formas. Vale lembrar também que 'Biu' não é um político que merecesse ser subestimado. O fato de ter sido o deputado federal mais votado nas eleições anteriores já deveriam garantir o pé atrás, ou seja, sua ampla aliança no interior deveria ser vista com mais respeito pela ex-senadora e sua equipe. E, o mais importante, o apoio de Cícero Almeida, prefeito de Maceió reeleito com mais de 80% dos votos, na capital era garantia de voto certo.

Para a esquerda, a derrota de Heloísa é catastrófica. Figura mais importante construída desde o pós-Lula, mesmo com todas as críticas e contradições que sua caminhada (em especial em momentos recentes como o apoio a candidatura de Marina Silva, sendo que o partido tinha Plínio de Arruda Sampaio como candidato a presidência, ou a negativa de ser candidata a presidência, insistindo na candidatura ao senado), uma derrota local enfraquece-a como referência de figura pública da esquerda.

A derrota de Heloísa só demonstra que o personalismo que a política institucional colocou como regra deve ser, no mínimo, repensada enquanto atuação da esquerda. O período pós-Lula precisa ser pensado com esses dois pontos a médio prazo: as figuras do pós-ditadura precisam assumir o protagonismo do debate, ou seja, essas superar o debate dos benefícios da abertura democrática. Apenas novas figuras podem assumir essa questão com protagonismo, as de sempre já mostraram suas dificuldades. O segundo ponto é a desmistificação da figura pública e a construção da propaganda pela mobilização, com a luta real é que novas figuras devem aparecer naturalmente e não as auto-proclamadas direções.

Ainda sobre as eleições e a esquerda, em especial a alagoana, o professor Globery Lessa escreveu um artigo no blog do jornalista Odilon Rios (http://www.alagoas24horas.com.br/blog/index.asp?vPagina=6&vCod=52). A crítica do professor Golbery é problemática, mas merece uma leitura.


A campanha ao Governo do Estado, pelo menos no guia, é de baixíssimo nível. E pensar que quatro anos antes os dois apareciam sorrindo, lado a lado.

domingo, 15 de agosto de 2010

Até tu?

Colo aqui uma entrevista retirada do jornal da Consulta Popular, também conhecido como jornal do MST. O entrevistado foi João Pedro Stedile, um dos nomes mais influences dentro do movimento sem terra.

Antes da cola, comento.

As análises do capitalismo são lugar-comum dentro do campo da esquerda. Claras, sim, mas nada muito diferente do que quarquer militante de esquerda minimamente bem informado não saiba.

O problema está em mais uma tentativa da Consulta Popular, agora na figura de Stédile, nos levar a entender que ou votamos em Dilma ou o mundo acabará. Joga mais uma vez um peso na luta eleitoral qeu deveria ser condensada para a luta programática e não pela disputa do poder.

Usa o nome de Gramsci em vão, em uma leitura, no mínimo, equivocada de disputa hegeônica. Não tem nada de Gramsci em Dilma e Stédile sabe.

A substituição de disputa de hegemonia, no sentido gramsciniano, por um terrorismo apocalíptico, como fez Stédile, faz mal a esquerda. Se disputar a hegemônia significa abrir mão do programa revolucionário e de pautas mínimas, como a própria reforma agrária, então provavelmente o Gramsci de Stédile é bem diferente do meu. Talvez Carlos Nelson Coutinho, talvez o maior especialista no escritos italiano, possa desempatar essa.

Os movimentos sociais urbanos, asssim como diversas organizações das cidades, podem se dividir e discordar em relação ao programa que a esquerda deveria adotar no precesso eleitoral em curso.

Bem ou mal, os três candidatos da esquerda possuem algumas divergências que são caras a esquerda e que não devem ser esquecidas ou diminuidas. A mais importante talvez seja a compreensão do potencial revolucionário do proletariado, ou até que é mesmo esse proletariado.

Pelo o que tenho lido, o PCB parece se aproximar mais de uma compreensão "ortodoxa", como diria Sérgio Lessa, do protagonismo do proletariado. O PSTU demonstra cada dia mais uma aproximação a uma certa centralidade da classe trabalhadora, dos excluídos. Já o Psol já defende claramente essa posição, isso quando não aponta para um caminho de disputa eleitoral, no sentido "gramsciniano de Stédile".

Bem, a entrevista segue. Veremos por onde a esquerda caminhará neste processo.


Serra representa a burguesia e a volta do neoliberalismo

Nilton Viana

da Redação

A candidatura de José Serra (PSDB) representa o núcleo central dos interesses da burguesia e a volta do neoliberalismo. Esta é a avaliação João Pedro Stedile. Em sua primeira entrevista ao Brasil de Fato, o dirigente nacional do MST e da Via Campesina constata que, no atual cenário eleitoral, as candidaturas não estão debatendo programas, projetos para a sociedade. Mas, segundo ele, elas representam claramente interesses diversos de forças sociais organizadas. Nesse sentido, Stedile afirma que Serra representa os interesses da burguesia internacional, da burguesia financeira, dos industriais de São Paulo, do latifúndio atrasado, com Katia Abreu de coordenadora de finanças e setores do agronegócio do etanol. E, frente a esse cenário, defende que, “como militantes sociais, e como movimentos sociais, temos a obrigação política de derrotar a candidatura Serra”.

Brasil de Fato – Com a implementação do modelo neoliberal, os bancos e o capital financeiro aumentaram seus lucros e passaram a dirigir a economia do Brasil, que se sustenta na política de juros altos, meta de inflação, arrocho fiscal e política de exportações. Quais as consequências desse modelo?

João Pedro Stedile – Estamos vivendo a etapa do capitalismo que se internacionalizou, dominou toda a economia mundial sob a hegemonia do capital financeiro e das grandes corporações que atuam em nível internacional. O mundo é dominado por 500 grandes empresas internacionalizadas, que controlam 52% do PIB mundial e dão emprego para apenas 8% da classe trabalhadora. As consequências em nível mundial são um desastre, pois toda população e os governos nacionais precisam estar subordinados a esses interesses. E eles não respeitam mais nada, para poder aumentar e manter suas taxas de lucro. Seus métodos vão desde a apropriação das riquezas naturais, deflagração de conflitos bélicos para manter as fontes de energias e controle do Estado, para se apropriarem da mais-valia social ou poupança coletiva através dos juros que os estados pagam aos bancos. No Brasil, a lógica é a mesma. Com um agravante, sendo uma economia muito grande e dependente do capital estrangeiro, aqui o processo de concentração de capital e de riqueza é ainda maior. Esta é a razão estrutural do porquê – apesar de sermos a oitava economia mundial em volume de riquezas – estamos em 72º lugar nas condições médias de vida da população e somos a quarta pior sociedade do mundo em desigualdade social. Portanto, essa fase do capitalismo, em vez de desempenhar um papel progressista no desenvolvimento das forças produtivas e sociais, como foi a etapa do capitalismo industrial; agora, os níveis de concentração e desigualdade só agravam os problemas sociais.

Mesmo com a eleição de governos mais progressistas, o Estado brasileiro mantém seu caráter antipopular, sem a realização de mudanças mais profundas que resolvam os problemas estruturais do país. Como você avalia a democracia e o Estado no Brasil?

Primeiro, há uma lógica natural do funcionamento da acumulação e da exploração do capital que sobrepõe os governos e as leis. Segundo, no período neoliberal, o que o capital fez foi justamente isso, privatizar o Estado. Ou seja, a burguesia transformou o Estado em seu refém, para que ele funcione apenas em função dos interesses econômicos. E sucateou o Estado nas áreas de políticas públicas de serviços que servem a toda população, como educação, saúde, transporte público, moradia etc. Por exemplo, temos 16 milhões de analfabetos. Para alfabetizá-los, custaria, no máximo, uns R$ 10 bilhões. Parece muito – o Estado, com todo seu aparato jurídico impede de aplicar esse dinheiro –, mas isso representa duas semanas do pagamento de juros que o Estado faz aos bancos. Construímos viadutos e estradas em semanas, mas para resolver o deficit de moradias populares é impossível? Temos ainda 10 milhões de moradias faltando para o povo.

Por último, a sociedade brasileira não é democrática. Nós nos iludimos com as liberdades democráticas de manifestação, que conquistamos contra a ditadura, que foram importantes. Mas a verdadeira democracia é garantir a cada e a todos cidadãos direitos e oportunidades iguais, de trabalho, renda, terra, educação, moradia e cultura. Por isso, mesmo quando elegemos governos com propostas progressistas, eles não têm força sufi ciente para alterar as leis do mercado e a natureza do Estado burguês.

Na política internacional, o governo Lula investiu na relação com países do hemisfério Sul, com o fortalecimento do Mercosul e da Unasul, por exemplo. Qual a sua avaliação dessa política e quais os seus limites?

O governo Lula fez uma política externa progressista no âmbito das relações políticas de Estado. E uma política dos interesses das empresas brasileiras, nos seus aspectos econômicos. Comparado às políticas neoliberais de FHC, que eram totalmente subservientes aos interesses do imperialismo, isso é um avanço enorme, pois tivemos uma política soberana, decidida por nós. Na política, se fortaleceram os laços com governos latinos e daí nasceu a Unasul para a América do Sul, e a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) para todo o continente, excluindo-se os Estados Unidos e o Canadá. Esses dois organismo representam o fim da OEA. Aliás, já tarde. Na economia se fortaleceram laços econômicos com países do Sul. Mas ainda precisamos avançar mais na construção de uma integração continental que seja de interesse dos povos, e não apenas das empresas brasileiras, ou mexicanas e argentinas. Uma integração popular latino-americana no âmbito da economia será o fortalecimento do Banco do Sul, para substituir o FMI. O banco da Alba, para substituir o Banco Mundial. E a construção de uma moeda única latino-americana, como é proposto pela Alba, através do sucre, para sair da dependência do dólar. Se queremos independência e soberania econômica nas relações internacionais e latino-americanas, é fundamental colocarmos energias para derrotar o dólar. O dólar foi fruto da vitória estadunidense na segunda guerra mundial e tem sido, nessas décadas todas, o principal mecanismo de espoliação de todos os povos do mundo. Num aspecto mais amplo, o presidente Lula tem razão: as Nações Unidas não representam os interesses dos povos, e por isso é besteira o Brasil sonhar em ter a presidência. Precisamos é construir novos e mais representativos organismos internacionais. Mas isso não depende de propostas ou vontade política. Depende de uma nova correlação de forças mundial, em que governos progressistas sejam maioria. E hoje não são.

O sistema de televisão e rádio é extremamente concentrado no Brasil, em comparação até com os outros países da América Latina. Quais as consequências disso para a luta política?

Durante o século 20, hegemonizado pela democracia republicana e pelo capitalismo industrial que produziu uma sociedade de classes bem definida, a reprodução ideológica da burguesia se dava pelos partidos políticos, pelas igrejas e pelos sindicatos e associações de classe. Agora, na fase do capitalismo internacionalizado e financeiro, a reprodução da ideologia dominante se dá pelos meios de comunicação, em especial redes de televisão e as agências internacionais de noticias. A burguesia descartou os outros instrumentos e prioriza estes, os quais tem controle total. Por isso, no Brasil, na América Latina e em todo o mundo, os meios de comunicação estão sob controle absoluto das burguesias. E eles usam como reprodução ideológica, como fonte de ganhar dinheiro e como manipulação política. E como seus patrões estão internacionalizados, suas pautas e agendas estão também centralizadas. Por isso, a construção de um regime político mais democrático, mesmo nos marcos do capitalismo, depende fundamentalmente da democratização dos meios de comunicação. Isso é fundamental para garantir o direito ao acesso à informação honesta e impedir a manipulação das massas. E os governos deveriam começar eliminando a publicidade estatal, em qualquer nível, em qualquer meio de comunicação. É uma vergonha o que se gasta em publicidade oficial. No Paraná, para se ter uma ideia, em oito anos de governo Lerner [1995-2002], o Estado pagou mais de R$ 1 bilhão em publicidade para dois ou três grupos de comunicação.

As grandes cidades brasileiras enfrentam problemas como falta de habitação, saneamento básico, escolas, hospitais, além de trânsito e violência. Como você analisa a questão urbana?

A maior parte da população se concentra nas grandes cidades, e aí estão concentrados também os pobres e os maiores problemas resultantes desse modelo capitalista, e de um Estado que atua somente em favor dos ricos. Os pobres das grandes cidades se amontoam nas periferias, não têm direito a moradia, escola, transporte público decente, trabalho, renda. Nem a lazer. Sobram os programas de baixaria da televisão como lazer. Nesse contexto é evidente que o sistema gera um ambiente propício para o narcotráfico, para a violência social.

E o Estado, o que tem feito através dos mais diferentes governos?

A única resposta tem sido a repressão. Mais polícia, mais violência oficial, mas cadeia. As cadeias estão cheias de pobres, jovens, mulatos ou negros. Há uma situação insustentável de tragédia social. Todos os dias assistimos os absurdos da desigualdade social, do descaso do Estado e da truculência do capital. As estatísticas são aterrorizantes: 40 mil assassinatos por ano nas grandes cidades, a maioria pela polícia. Por isso os movimentos sociais apoiaram a campanha pelo desarmamento. Mas a força das empresas bélicas financiou deputados, campanhas etc., e o povo caiu na ilusão de que o problema da violência urbana se resolveria tendo o direito de ter arma. Acredito que a pobreza e a desigualdade nas grandes cidades brasileiras é o problema social mais grave que temos. Infelizmente nenhum candidato está debatendo o tema, nem quando o debate é para prometer segurança! Segurança para quem? As famílias precisam de segurança de trabalho, renda, escola para os filhos.

Nas eleições presidenciais, o quadro apresenta duas candidaturas que polarizam a disputa, enquanto as outras não demonstram força para mudar essa situação. Nessa conjuntura, quem abre melhores perspetivas para a classe trabalhadora e para a reforma agrária?

As candidaturas não estão debatendo programas, projetos para a sociedade. Mas as candidaturas representam claramente interesses diversos de forças sociais organizadas. Serra representa os interesses da burguesia internacional, da burguesia financeira, dos industriais de São Paulo, do latifúndio atrasado, com sua Katia Abreu de coordenadora de finanças, e setores do agronegócio do etanol. Dilma representa setores da burguesia brasileira que resolveram se aliar com Lula, setores mais arejados do agronegócio, a classe média mais consciente, e praticamente todas as forças da classe trabalhadora organizada. Vejam, apesar de toda popularidade do Lula, nessa campanha, a Dilma reuniu mais forças da classe trabalhadora do que na eleição de 2006. A candidatura da Marina representa apenas setores ambientalistas e da classe média dos grandes centros, e por isso seu potencial eleitoral não decola. E temos três candidaturas de partidos de esquerda, com companheiros de biografia respeitada de compromisso com o povo, mas que não conseguiram aglutinar forças sociais ao seu redor, e por isso, o peso eleitoral será pequeno. Nesse cenário, nós achamos que a vitória da Dilma permitirá um cenário e correlação de forças mais favoráveis a avançarmos em conquistas sociais, inclusive em mudanças na política agrícola e agrária. E evidentemente que nesse cenário incluímos a possibilidade de um ambiente propício para maior mobilização social da classe trabalhadora como um todo, para a obtenção de conquistas. Como militantes sociais, e como movimentos sociais, temos a obrigação política de derrotar a candidatura Serra, que representa o núcleo central dos interesses da burguesia e a volta do neoliberalismo.

O MST apresentou uma avaliação de que a luta eleitoral não é sufi ciente para a realização das mudanças sociais. Por outro lado, analisa que é um momento importante no debate político. Como o MST vai se envolver nessas eleições?

A esquerda brasileira, os movimentos sociais e políticos ainda estão aturdidos com a derrota político-ideológica-eleitoral que sofremos em 1989. Isso levou a muitas confusões, e também a alguns desvios de setores da classe. Vivemos um período da história da luta de classes de nosso país – e poderíamos dizer em nível internacional, na maioria dos países – em que a estratégia para conseguir acumular forças para mudanças sociais é a combinação da luta institucional com a luta social. Na luta institucional, compreendemos a visão gramsciana na qual os interesses da classe trabalhadora precisam disputar e ter hegemonia na disputa de governos nos três níveis: municipal, estadual e federal. Nos espaços do conhecimento, universidade, meios de comunicação. Nos sindicatos, igrejas e outras instituições da sociedade de classes. E a luta social são todas as formas de mobilização de massa, que possibilitam o desenvolvimento da consciência de classe e a conquista de melhores condições de vida – sabendo que elas dependem de derrotar os interesses do capital. Pois bem, o que aconteceu no último período? Parte da esquerda e da classe trabalhadora priorizou a luta institucional da disputa apenas de governos e menosprezou, desdenhou a luta social. E parte dos movimentos sociais, desencantado com a crise ideológica, desdenhou a luta institucional, como se a luta direta, de massas, fosse sufi ciente. Luta social apenas, sem disputar projeto político na sociedade e sem disputar os rumos institucionais do Estado, não consegue acumular para a classe. Podem até eventualmente resolver problemas pontuais da classe, mas não mudam a natureza estrutural da sociedade. O MST compreende que devemos aglutinar, combinar, estimular as duas formas de luta, de forma permanente. Para que com isso possamos acumular forças, organizadas, de massa, de forma orgânica, que construa um projeto político da classe e ao mesmo tempo crie condições para o reascenso do movimento de massas, pois este é o período histórico em que a classe tem condições de ir para a ofensiva, de tomar inciativa política, de pautar seus temas para todo o povo. Por isso, claro que todo militante do MST, como cidadão consciente, deve arregaçar as mangas e ajudar a eleger os candidatos mais progressistas em todos os níveis. Isso é uma obrigação de nosso compromisso com a classe.

Desde os tempos do governo FHC, José Serra fez declarações contra a reforma agrária e o MST. No entanto, nas últimas semanas, vem intensificando os ataques. Na sua visão, por que ele vem agindo dessa forma?

Por dois motivos. Primeiro, porque as forças sociais que ele representa agora, como porta-voz maior, são as forças da classe dominante do campo e da cidade, que são contra os interesses dos camponeses, da classe trabalhadora em geral e do povo brasileiro. Portanto, ele é contra a reforma agrária não porque não goste do MST, mas por uma questão de interesse de classe. Segundo, na minha avaliação, é que a coordenação tucana acha que a única chance do Serra crescer eleitoralmente é adotar um discurso de direita, para polarizar e, então, se mostrar mais de confiança do que a Dilma. Por isso adotou todos os ícones da esquerda para bater. Bate em nós, em Fidel, em Cuba, Chávez, Evo Morales, até no bispo Lugo ele bateu. Achou uma conexão das Farc com o PT absurda. Ele sabe que o partido está mais próximo da social-democracia. Não é por ignorância, é por tática eleitoral. Acho que ele errou também na tática. E vai ficar refém de seu discurso de direita sem ampliar os votos. Eu acho ótimo que ele se revele como direitista mesmo. Ajuda a clarear os interesses de classe das candidaturas. E por isso mesmo vai perder de maior diferença do que o Alckmin perdeu do Lula em 2006.

Atualmente, o movimento sindical vem fazendo a luta pela redução da jornada, mas está fragmentado em uma série de centrais sindicais. Quais os problemas e desafios da luta sindical atualmente?

Não tenho a pretensão de dar lições a ninguém. Há valorosos companheiros que atuam na luta sindical que têm muitos elementos para analisar a situação da organização de classe. Os problemas e desafios da organização sindical são evidentes. Mas não estão no número de sindicatos ou de centrais. Isto, ao contrário, até poderia ser visto como vitalidade, já que as correntes sindicais sempre existiram, são importantes e aglutinam por vertentes ideológicas. Os desafios da unidade da classe nos sindicatos passam pela necessidade de recuperarmos o trabalho de base, a organização, de toda a classe, lá no local de trabalho e no de moradia. Ninguém mais quer fazer reunião na porta de fábrica, na fábrica (mesmo que de forma clandestina, como era nos tempos do Lula). Precisamos recuperar o sentido da luta de massas como a única expressão da força da classe. Precisamos recuperar o debate de temas políticos, relacionados com um programa para a sociedade que extrapole as demandas salariais e corporativas. Precisamos recuperar a importância de o movimento sindical ter seus próprios meios de comunicação de massa. Saúdo a chegada da televisão dos trabalhadores no ABC. Mas precisaríamos ter antes, e em todas regiões metropolitanas. Precisamos recuperar a formação de militantes da classe trabalhadora, em todos os níveis. Sem conhecimento, sem teoria, não haverá mudanças. E, com essas iniciativas, certamente poderemos construir um processo de maior unidade, já que os interesses da classe como um todo serão o denominador comum, e de construção do reascenso do movimento de massas.

Um grupo de dirigentes e estudiosos avalia que a sociedade brasileira passou por uma transformação, e sindicatos e partidos políticos não são suficientes para organizar o povo brasileiro, especialmente com o aumento da informalidade. Com isso, seria necessário construir novos instrumentos para a luta política. Como você avalia os desafios organizativos da classe trabalhadora?

As formas de organização da classe em partidos, sindicatos e associações de bairro foram desenvolvidas pela classe, como respostas ao desenvolvimento da exploração pelo capitalismo industrial, desde os tempos de Marx até os dias atuais. Acho que o problema não é ficar analisando se serve ou não, jogar tudo fora e pensar novos instrumentos. Cada tempo histórico tem suas formas de organização, suas formas de luta de massa e produz suas próprias lideranças. Estamos vivendo um período de derrota político-ideológica que gerou crise ideológica e organizativa na classe. Um período de refluxo do movimento de massas. Mas isso faz parte de um período, de uma onda. Logo ingressaremos em novos períodos. Acho que o principal não é discutir a forma, mas tratar de organizar de todas as maneiras possíveis todos os setores da classe trabalhadora. E evidentemente que a forma sindical ou partidária não está conseguindo chegar na juventude pobre, da classe trabalhadora das periferias. E precisamos descobrir novos métodos e novas formas. As formas podem ter outros rótulos, outros apelidos, mas o principal é que a classe precisa se organizar do ponto de vista econômico, corporativo, para resolver suas necessidades e problemas imediatos; e precisa ter organização política, para disputar projetos para a sociedade. E só vamos resolver os problemas de organização organizando. A prática é a melhor conselheira, do que grandes teses, nesse caso.

Dentro de um modelo que tem hegemonia de bancos e do capital financeiro, com o enfraquecimento da indústria, baseado no consumo de massa, quais as perspectivas de futuro para a juventude?

A juventude pobre, da classe trabalhadora urbana, não tem espaço nesse modelo de dominação do capital financeiro e internacionalizado. Nem nos países chamados ricos, como na Europa, onde o desemprego atinge até 40% da juventude. O futuro da juventude está justamente em desenvolver uma consciência como classe trabalhadora. Se apenas ficar se olhando como jovem e sem oportunidades, não vai encontrar as respostas, vai ficar velho sem as respostas. Precisamos desenvolver consciência de classe, e motivá-los para que se mobilizem, lutem. E como estão fora das fábricas, da escola, temos que desenvolver novas formas de trabalho político com a juventude, que a ajude a debater, a se aglutinar, para que descubra que o futuro é agora. Tenho esperanças, há uma massa enorme da juventude trabalhadora urbana que está em silêncio. Ou ainda alienada, iludida. Alguns tentando entrar no mercado consumidor, como se fosse a felicidade geral. Logo perceberão que precisam ter uma atitude, uma participação ativa na sociedade.

O MST vem fazendo a avaliação de que a reforma agrária não avançou durante o governo Lula. Por quê?

É preciso ter claro os conceitos e o significado da reforma agrária. Reforma agrária é uma política pública, desenvolvida pelo Estado, para democratizar a propriedade da terra e garantir o acesso a todos os camponeses que queiram trabalhar na terra. Do ponto de vista histórico, ela surgiu numa aliança da burguesia industrial no poder com os camponeses que precisavam terra, para sair da exploração dos latifundiários. E, assim, a maioria das sociedades modernas fez reforma agrária a partir do século 19 e ao longo do século 20. Depois tivemos as reformas agrárias populares e socialistas, que foram feitas por governos populares ou revolucionários, no bojo de outras mudanças sociais. Aqui no Brasil nunca tivemos reforma agrária. A burguesia brasileira nunca quis democratizar a propriedade da terra. Ela preferiu manter aliança com os latifundiários para que continuassem exportando matérias-primas (e aí ela usaria os dólares da exportação para bancar a importação de máquinas) e sobretudo preferiu expulsar os camponeses para a cidade, para criar um amplo exército industrial de reserva, que manteve ao longo do século 20 os salários industriais mais baixos de todas as economias industriais do mundo. E os camponeses brasileiros nunca tiveram forças, sozinhos nem em aliança com os trabalhadores da cidade, para impor uma reforma agrária aos latifundiários. Chegamos mais perto disso em 1964. E tivemos um baita programa de reforma agrária, em aliança com o governo Goulart. A resposta da burguesia foi se aliar com Império e impor a ditadura militar de classe. As políticas dos governos no Brasil e do governo Lula são de assentamentos rurais. Ou seja, aqui e acolá, pela força da pressão camponesa, desapropria algumas fazendas para aliviar os problemas sociais. Mas isso não é reforma agrária. Tanto que o censo do IBGE de 2006 revelou que agora a concentração da propriedade da terra é maior do que no censo de 1920, quando recém saímos da escravidão. E no governo Lula não tivemos espaço para debater um processo de reforma agrária verdadeiro, e nem tivemos força de massas para pressionar o governo e a sociedade. Por isso, a atual política de assentamentos é insuficiente por um lado, mas reflete a correlação de forças políticas que há na sociedade. Lamentamos apenas que algumas forças dentro do governo se iludam a si mesmas, fazendo propaganda ou achando que essa política de assentamentos – insuficiente – fosse reforma agrária.

Alguns estudiosos e setores sociais, até mesmo na esquerda, avaliam que passou o tempo da reforma agrária no Brasil. Qual o papel da reforma agrária dentro do atual estágio de desenvolvimento?

É verdade, nós também dizemos isso. Não há mais espaço para uma reforma agrária clássica, que visava apenas distribuir terra aos camponeses e eles produziriam com suas próprias forças e família para o mercado interno. Esse modelo era viável no auge e para o desenvolvimento nacional e do capitalismo industrial. Mas ele é inviável não porque o MST desdenha, e sim porque as forças políticas e sociais que poderiam ter interesse não têm mais. Se houvesse uma reviravolta nas classes que dominam o Brasil, e um novo projeto de desenvolvimento nacional e industrial entrasse na pauta política, aí a reforma agrária clássica teria lugar. Mas não é isso que se desenha. Então, qual a alternativa agora? É lutar por um novo tipo de reforma agrária. Uma reforma agrária que nós chamamos de popular. Que o movimento de pequenos agricultores chama de Plano Camponês, que a própria Contag e Fetraf chamam de agricultura familiar. São rótulos diferentes para um conteúdo semelhante. Ou seja, nós precisamos reorganizar o modelo de produção agrícola do país. Nós queremos usar nossa natureza para uma agricultura diversificada, fixando as pessoas no meio rural com melhoria das condições de vida, eliminando o latifúndio (não precisa ser muitos, apenas os acima de 1.500 hectares), adotando técnicas de produção de agroecologia, respeitosas ao meio ambiente e, sobretudo, produzindo alimentos sadios para o mercado interno. Nossa proposta de reforma agrária popular, no entanto, depende de um novo modelo de desenvolvimento, que tenha distribuição de renda, soberania nacional, rompimento com o domínio do capital estrangeiro sobre a agricultura e a natureza.

Como a reforma agrária pode beneficiar o conjunto da sociedade, especialmente a população das cidades?

A reforma agrária e a fixação do homem no campo são fundamentais para reduzir o desemprego na cidade e elevar os patamares do salário mínimo e a média salarial. A burguesia só paga baixos salários e aumenta o número de empregados domésticos porque todos os dias chegam milhares de novos trabalhadores se oferecendo para serem explorados. A reforma agrária é a única que pode produzir sem venenos. A grande propriedade do agronegócio só consegue produzir com veneno, porque não quer mão de obra, e esse veneno vai para o estômago de todos nós. Na última safra foram um bilhão de litros de venenos, 6 litros por pessoa, 150 litros por hectares. Uma vergonha. Um atentado. A reforma agrária ajuda a resolver o problema de moradia e do inchaço das cidades. Também vai reequilibrar o meio ambiente e com isso teremos menos mudanças climáticas que estão afetando agora, com mais força, as cidades. Vejam o que aconteceu no Nordeste. Num dia, 13 cidades foram varridas do mapa pelas chuvas torrenciais. Não foi a chuva a culpada, e sim o monocultivo da cana que alterou o equilíbrio e empurrou o povo para a beira do rio. Mas isso só o general Nelson Jobim viu e teve coragem de dizer. A Globo ficou quietinha procurando acobertar. Nenhuma área de reforma agrária de Pernambuco e Alagoas foi atingida, por que será? E nossos assentamentos foram os primeiros, antes do governo, a dar guarida aos desabrigados.

Por que a Via Campesina e o MST vêm realizando protestos contra as grandes empresas do agronegócio? As ocupações de terras não são sufi cientes ou não servem mais para a luta pela reforma agrária?

Como disse antes, agora a disputa não é mais apenas entre os pobres sem-terra e os latifundiários. Agora é uma disputa de modelo para produção e uso dos bens da natureza. De um lado temos o agronegócio, que é a aliança entre os grandes proprietários, o capital financeiro, que os financia – veja que, de uma produção de R$ 112 bilhões, os bancos adiantam R$ 100 bi para eles poderem produzir –, as empresas transnacionais que controlam a produção de insumos, sementes, o mercado nacional e internacional e as empresas de mídia. E, de outro lado, os sem-terra, os camponeses com pouca terra e a agricultura familiar em geral. E nesse marco de disputa, nosso inimigo principal são os bancos e as empresas transnacionais. Então, fazemos a luta de classes contra nossos inimigos principais e ao mesmo tempo devemos seguir lutando para melhorar as condições de vida, com novos assentamentos, moradia rural, luz para todos, programa de compra de alimentos pela Conab, um novo crédito rural etc. Essas medidas, embora setoriais, também ajudam a acumular força como classe.

Nos próximos dias, o MST vai realizar atividades pela reforma agrária. Como serão essas mobilizações e quais seus objetivos? Elas têm alguma relação com o período eleitoral?

A coordenação nacional do MST escolheu há tempos essa semana de meados de agosto para realizar uma campanha nacional de debates em torno da reforma agrária. É uma forma concentrada de esforços para desenvolver diferentes maneiras de agitação e propaganda; para levar nossas ideias à classe trabalhadora urbana; para denunciar os problemas e malefícios que o agronegócio, com seus venenos e sua sanha concentradora, causa para toda a sociedade; e, ao mesmo tempo, mostrar justamente os benefícios de uma reforma agrária popular. Esperamos que nossa militância se engaje em todo país, para essa jornada de conscientização de massas.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Começou o Fórum Social Américas

O IV Fórum Social Américas (FSA), instalado no coração do continente, teve início com uma marcha pelas principais ruas de Assunção, milhares de pessoas marcharam do Conselho Nacional de Esportes para o edifício do Cabido, situado no centro da cidade. Por 10 quilômetros delegações de mais de 600 organizações sociais vindas de diversos países da América Latina, transformaram as ruas da capital com suas bandeiras coloridas.

A frente da marcha estavam camponesas e indígenas da Federação de Mulheres Camponesas “Bartolina Sisa” da Bolívia, a Prêmio Nobel Rigoberta Menchú da Guatemala e Magui Balbuena da Coordenação Nacional de Mulheres Rurais e Indígenas (CONAMURI) do Paraguai.


Durante todo o percurso, os participantes invocavam a integração e a libertação do continente, rejeição às bases militares norte-americanas no continente e à criminalização das lutas dos povos. Dos predios, vários cidadãos/as saudavam os manifestantes que marchavam ao som da “batucada” e de música de grupos bolivianos.


A dirigente da Conamuri, Magui Balbuena foi a encarregada de dar as boas-vindas a todos e a todas na praça do Cabido, afirmando que o FSA é “um momento histórico para o povo do Paraguai, que possibilita encontrar-nos e compartilhar nossas lutas para criar uma grande frente de batalha contra o imperialismo, com esta diversidade avançaremos na construção de outro mundo possível.”


O ato teve como característica a locução nos idiomas que fazem parte do país, o guarani e o espanhol, a apresentação do coro Tava Guarani-São Pedro, integrado por jovens dessa mesma comunidade. Em seguida, o representante do Conselho Hemisférico do FSA, Edgardo Lander da Venezuela, se dirigiu ao público afirmando que este Fórum se produz em um palco político que sofreu mudanças em toda a região, manifestando que “o continente deve estar mais unido hoje, e deve reforçar a construção de alternativas que se levantaram, apoiando os modelos de sociedades que têm uma aposta diferente ao neoliberalismo”.


Assim se iniciou a IV edição do Fórum Social Américas onde 6.000 participantes discutirão diversos temas até 15 de agosto.

O discurso derrotista da Assembléia Popular

Comento depois.

Primeiro aqui vai o deitorial do último Brasil de Fato, jornal da Assembléia Popular (AP), organização de esquerda que flutua entre a crítica e o apoio ao governo Lula. A AP possui boa interlocução junto ao MST.

Aqui vai o editorial.



Elementos determinantes da campanha eleitoral




Estamos a cerca de 50 dias das eleições mais importantes da vida institucional do país. Vamos eleger presidente da República, senadores, deputados federais, governadores estaduais e os parlamentares das Assembleias legislativas estaduais.

Não há, no entanto, um clima de debates de ideias e de agitação política na sociedade. Parece que as campanhas eleitorais estão engessadas, moldadas por uma legislação que impede uma participação popular mais ativa. Limita comícios e atividades de agitação política próprias da natureza do processo. A burguesia brasileira reduziu a campanha eleitoral à propaganda na televisão, a marketing de pessoas – não de programas – que dependem de esquemas econômicos muito caros. Compra de cabos eleitorais – “militância” paga e material de propaganda sofisticados – se transformaram em fatos normais.

Com isso, tem mais vantagem os candidatos que conseguem maior arrecadações de recursos, junto a empresas, bancos etc., em mecanismos no mínimo promíscuos para quem deseja ocupar cargos públicos e administrar volumosos recursos do povo. Com isso, transformam a campanha num grande mercado eleitoral, onde tudo se compra, tudo se paga. Ou seja, não existem mais cabos eleitorais motivados por ideologia ou programas; não existe mais trabalho voluntário de campanha; não existe mais os métodos populares de debate de ideias, de convencimento, de disputa e agitação política entre militantes e a população em geral.

Período histórico
Neste cenário, há também o componente do período histórico que vivemos. A classe trabalhadora brasileira vivencia uma longa etapa de refluxo do movimento de massas, que vem desde a derrota político-ideológica para o neoliberalismo e a vitória dos governos Collor-FHC.

Então, há muita confusão ideológica e divisionismo, pela derrota política sofrida pela esquerda e pelo abandono das ideias socialistas por muitos setores que levam a todo tipo de desvios oportunistas entre candidatos de todo tipo.

Além disso, há uma desarticulação política das organizações de massa, que reduziram seus programas. Embora, justiça seja feita, houve tentativa de diversos segmentos organizados para discutir programas para o país. Nesse sentido, é louvável o esforço da CUT, com outras centrais sindicais que produziram uma proposta de governo, que está mais à esquerda do que os programas dos partidos. Também é louvável o esforço da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) em costurar um programa de desenvolvimento nacional com a ótica dos trabalhadores, uma espécie de programa mínimo. E foi importante o esforço da Assembleia Popular em debater e produzir um programa de longo prazo, baseado no espírito do Brasil que precisamos.

Porém, todas essas iniciativas, importantes, não conseguiram ainda influenciar e determinar o debate entre os candidatos, em todos os níveis.

Condicionantes do melhorismo
O cientista político André Singer defende – em entrevista publicada na edição 374 do Brasil de Fato – algumas hipóteses que podem nos ajudar a entender o que estaria acontecendo com as massas. Segundo ele, a principal base social do governo Lula e de sua candidata Dilma, seria agora um sub-proletariado, que é a maior parte da classe trabalhadora brasileira. Mas que não tem tradição de organização, nem consciência de luta de classes. Melhorou suas condições de vida, o que o leva a apoiar o governo e sua candidata, mas sem querer disputa e conflitos. É a letargia das massas que apoiam o melhorismo. E são a maioria da população.

As candidaturas a presidente
Entre as candidaturas a presidente, o cenário, seus atores e o script já está definido. Não estão em jogo programas de partidos. As siglas estão mescladas e, às vezes, juntam interesses oportunistas e até antagônicos. Tampouco está em jogo as biografias pessoais, ou compromissos com a classe trabalhadora e os mais pobres. O que está posto são forças sociais que se alinharam com esse ou aquele candidato, e isso está determinando o resultado eleitoral, cujo desenlace terá poucas mudanças até o dia 3 de outubro.

Atrás da candidatura Serra estão as forças do capital mais atrasadas e subservientes ao império. Os grandes bancos, a grande indústria paulista, o latifúndio atrasado de Kátia Abreu e o agronegócio "moderno" do etanol. Seu programa é um só: a volta do mercado, benefícios para as empresas e a repressão para conter as demandas sociais. Seria a prioridade no programa dos três PPPs já aplicado em São Paulo: privatizações, pedágios e presídios.

A candidatura Dilma representa a continuidade do governo Lula e tem forças sociais entre a burguesia mais lúcida (temerosa da reação das massas), setores da classe média que melhorou de vida e amplos setores da classe trabalhadora. Praticamente todas as forças populares organizadas têm sua base social apoiando a candidata petista.

A candidatura Marina, apesar de seus vínculos passados com o PT e o governo Lula, não conseguiu sensibilizar a classe trabalhadora, e reúne apenas forças sociais representadas por setores ambientalistas da classe média urbana dos grandes centros. E por isso seu potencial eleitoral é muito pequeno.

E, por fim, temos três candidaturas de partidos de esquerda, com três lutadores do povo, de compromisso histórico com a classe trabalhadora. Mas nenhum deles conseguiu aglutinar força social organizada. E isso impede progressos eleitorais.

Os movimentos sociais
Os movimentos sociais em geral, e em particular, a Via Campesina, que sustentam a proposta do jornal Brasil de Fato, tem adotado uma postura política de evitar adesões explícitas a candidaturas. Mas todos eles manifestaram publicamente a decisão política de não medirem esforços para derrotar a candidatura Serra. A vitória do tucano seria a volta do neoliberalismo e do desprezo aos movimentos sociais. Quem tiver dúvida basta analisar o que foram os dezesseis anos de governo tucano em São Paulo. E nisso o candidato Serra tem sido honesto. Quando perguntado pelo Jornal da Band o que acha do MST e da reforma agrária, respondeu secamente que iria criar o Ministério da Segurança Nacional. Mais claro impossível.

As forças que o sustentam são a burguesia mais reacionária e corrupta desse país. E, certamente, o Departamento de Estado dos Estados Unidos está torcendo muito por sua vitória, para, com isso, alterar a correlação de forças na América Latina e fazer com que a bússola se mova para direita e para o norte.

Por todos esses elementos, o nosso jornal se soma à decisão política dos movimentos sociais que o sustentam de contribuir para a derrota de Serra, torcendo para que haja mudanças progressistas em todos os níveis das eleições. E que se reative o clima de debate de programas e de ideias na sociedade brasileira.



Voltei.

É triste notar em uma organização com tamanho poder mobilizador um discurso tão infeliz, pessimista. O pior talvez nem seja a análise pessimista e legitimadora do processo eleitoral como algo transformador.

O pior está na mentira, ou tentativa de. Qualquer leitor mais esclarecido notou de bate e pronto que o editorial é uma defesa envergonhada da candidatura Dilma.

Parece realmente que essa esquerda nacional não compreende nada mesmo. Afirmam pensar o Brasil, dizem querer discutir com os trabalhadores um novo projeto, mas vendem o mais do mesmo como solução por hora.

Sejam pelo menos honestos e digam a que vieram e de quem vestem a camisa sem firula que não somos bobos.

O que era ruim pode ficar pior

A Tv Cultura está programando uma grande reformulação em seu quadro de profissionais. Alegando inchaço de pessoal, a direção da emissora prometeu, e cumpriu, demitir uma enormidade de gente e contratar "nomes de peso".

A única boa notícia desta leva é a possibilidade de João Marcelo Boscoli, um dos donos da gravadora Trama, ter um programa diário sobre música. Podemos imaginar um ótimo espaço para bandas e artistas da cena alternativa darem as caras.

O problema é o preço a pagar. Este preço chama-se Manos e Minas. Um programa heróico da Tv aberta, aputado para a periferia, com apresentação de grupos de RAP e várias matérias sobre o mundo do hip hop.

Segue uma matéria do Brasil de Fato.

Patrícia Benvenuti

da Redação


Músicos, MC´s, Rappers, B-Boys, grafiteiros e organizações sociais de todo País estão mobilizadas contra a extinção do único espaço da cultura hip hop na televisão brasileira. A decisão de retirar o programa “Manos e Minas”, que vai ao ar aos sábados pela TV Cultura, da grade de programação da emissora foi anunciada na semana passada pelo presidente da Fundação Padre Anchieta, João Sayad.


O programa existia há quase três anos e apresentava, além da música hip hop, matérias direcionadas à juventude das periferias, com temas como gravidez na adolescência, violência nas escolas, crescimento do consumo do crack e autoestima da população negra. Ao todo, foram 93 programas e 93 apresentações de diferentes artistas.


Para o rapper Kamau a extinção do “Manos e Minas” representa não apenas o fim de um programa, mas o fim de um espaço importante dedicado à cultura da periferia. "Eu me sentia representado e [o fim do programa] é uma pena muito grande para a cultura hip hop e da periferia".


Kamau lembra que o programa foi uma conquista do movimento hip hop, frequentemente estigmatizado, e sua retirada significa a perda para uma grande parcela da população que não se vê em outros meios. "Onde vamos arrumar outro espaço como esse? Na tv aberta é muito difícil", pontua.


O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) também lamenta o final da atração. Para ele, o programa representava um avanço para a televisão. "Se trata de um programa inovador, diferente e que teve repercussão positiva. É um dos poucos programas que dá visibilidade à cultura hip hop", ressalta.


( vídeo do senador Suplicy em favor do “Manos e Minas” )


Reestruturação de Peso

Os trabalhadores da emissora souberam da decisão de retirar o “Manos e Minas” do ar por meio de entrevistas de João Sayad a jornais e páginas da internet. Como justificativa, para os funcionários, João Sayad alegou que a iniciativa deveu-se ao baixo Ibope da atração e a "questões artísticas", sem informar maiores detalhes. Os profissionais, no entanto, garantem que a audiência do programa não era inferior à média da TV Cultura.


Além do “Manos e Minas”, está confirmada a saída do programa “Link” da grade, que tratava de temas relacionados à internet. Outros programas, como o “Vitrine”, que trata dos bastidores da mídia, deverão passar por reformulações.


O novo plano de gestão de Sayad prevê também a contratação de nomes "de peso" para a emissora. O principal deles é o de Marília Gabriela que, a partir do dia 30 de agosto, comandará o programa "Roda Viva". Marília foi convidada para substituir o apresentador Heródoto Barbeiro na semana em que o jornalista desagradou ao candidato José Serra com perguntas sobre o preço dos pedágios nas rodovias de São Paulo.


(vídeo em que Serra é questionado por Barbeiro)


A TV Cultura também passará a exibir filmes da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e documentários do festival “É Tudo Verdade”. Já o dono da gravadora Trama, João Marcelo Bôscoli, ganhará um programa diário de variedades voltado para música que poderia vir a substituir o programa “Manos e Minas” sob o argumento de cobrir toda a diversidade da música popular brasileira.


Em entrevista à Folha Online, João Sayad confirmou que a meta das reformulações é modernizar a emissora e conquistar mais "prestígio" e audiência. "Estamos recuperando o prestígio da TV Cultura com personalidades conhecidas, em nome do espectador", disse.



Inchaço

Em diversas declarações, Sayad tem disparado também contra o "inchaço" do quadro de funcionários. Até agora, no entanto, não foram confirmadas demissões.


Uma funcionária da TV Cultura, que prefere não ser identificada, relata que existe, dentro da emissora, uma preocupação geral em relação ao futuro da TV, que deve ganhar contornos mais comerciais com o novo projeto. Ela lamenta também que a culpa por possíveis falhas recaia sobre os trabalhadores.


“Estão apresentando a TV como inchada e ineficiente. É uma grande injustiça, lá dentro tem grandes profissionais", afirma.


Ela critica ainda a postura do Estado em relação à emissora e aponta a falta de investimentos como uma dos principais erros. “Se os equipamentos estão sucateados, os funcionários não têm culpa”, salienta.



Mobilização

Desde o anúncio da extinção do “Manos e Minas”, a página do programa na internet tem recebido manifestações de apoio de telespectadores de todo o Brasil, que lamentam o fim da atração.


As manifestações se somam ao esforço de integrantes do movimento hip hop e de diversas organizações de todo País, que têm organizado uma campanha em favor do programa e da TV Cultura.


Os participantes da campanha enviaram uma carta ao senador Eduardo Suplicy, que se comprometeu a entregá-la ao presidente da TV Cultura, João Sayad. No documento, eles criticam a retirada do programa do ar e defendem o programa como um espaço dedicado à cultura das periferias.


Também estão sendo coletadas assinaturas para um abaixo-assinado. Para assinar, basta acessar o endereço http://www.ipetitions.com/petition/mem/.


Para o rapper Kamau, desistir do programa agora pode significar novas perdas depois.


"Perdendo o “Manos e Minas” agora significa que podemos perder algumas coisas depois. Se a gente mantiver o programa, será bom para todo mundo, não só para o movimento hip hop", enfatiza.


Vídeos em favor do programa “Manos e Minas”

Sobre o debate da BAND

Desculpe

Começo com uma análise da ótima Valéria Nader, editora do Correio da Cidadania, onde retirei o texto. Comento logo depois.


O debate dos presidenciáveis, o marasmo e uma dica para a esquerda

por Valéria Nader



Mesmo para aqueles já cientes e acostumados ao marasmo que tomou conta da cena política nacional, o primeiro debate entre os candidatos à presidência, promovido pela Rede Bandeirantes de Televisão, na noite do dia 5 de agosto, surpreendeu. Vem de longínqua data a desertificação de idéias e a homogeneização do pensamento político, bem como a apatia da população e dos movimentos sociais no que diz respeito ao exercício de sua cidadania e de seus direitos. Não parecia que um debate presidencial a mais ou a menos poderia suscitar um sentimento de ainda maior descrença na possibilidade de transformação de nosso país.

Os contendores de 5 de agosto conseguiram, de todo modo, reforçar a impressão de que se pode avançar mais na degringolada da qualidade dos debates. E se as discussões que protagonizaram forem tomadas como termômetro da atuação desses que se propõem a dirigir o país, só poderá restar muita desesperança aos brasileiros.

Dilma e Serra, como era de se esperar, polarizaram as discussões. Uma polarização, no entanto, absurdamente rasa e inócua. Os espectadores televisivos e os presentes no estúdio da Band depararam-se, no que se refere a estes líderes nas pesquisas, além de maiores representantes do status quo, com uma mistura de superficialidade, despreparo, confusão e mistificação. Problemas e desvios todos estes triviais nesse tipo de confronto, mas talvez percebidos como mais proeminentes no debate em questão. Afinal, após muitos anos, este é o primeiro confronto em que está ausente o presidente Lula, cuja popularidade conseguiu fazer como líder primeira nas pesquisas justamente a candidata que consegue reunir todos os ingredientes da mistura supracitada.

Marina não ficou pra trás na superficialidade dessa batalha. Para aqueles que porventura nutriam ainda alguma esperança quanto a uma possibilidade alternativa vinda do Partido Verde – conforme Editorial Marina: uma nesga de céu azul deste próprio Correio à época do lançamento da candidatura de Marina -, parece que precisam vislumbrar novos rumos. Não existe alternativa que possa ser minimamente oferecida a partir de uma risível insistência em permanecer no ‘caminho do meio’, em eterna busca pela conciliação e com a utilização de conceitos anódinos, a la ‘Terceira Via’. Para aqueles que, ademais, se mantêm mais visceralmente ligados às causas dos movimentos sociais, é inconcebível a posição titubeante e ambígua da candidata no que diz respeito à transposição do rio São Francisco e à construção da usina de Belo Monte – obras cujo impacto no meio ambiente deveria mobilizar de modo bem menos complacente aquela que está sempre a enfatizar a sua origem humilde em meio a nossas matas.

Em face de cenário tão árido e escasso de idéias relevantes, houve algumas inusitadas e surpreendentes intervenções. Plínio de Arruda Sampaio, ex-promotor público e deputado constituinte, atual presidente da ABRA (Associação Brasileira de Reforma Agrária), tocou em temas espinhosos e absolutamente negligenciados pelos veículos de comunicação e meios políticos - a efetivação da reforma agrária, a partir da desapropriação de terras a partir de 1000 hectares; a desigualdade na distribuição de renda; a redução da jornada de trabalho, sem redução salarial; e a controvérsia desenvolvimento versus meio ambiente. Do alto de uma história rica em experiências, acima de tudo, sempre vividas com muita coerência, abordou tais questões de modo direto e tranqüilo, interpelando os candidatos incisivamente a que se pronunciassem sobre elas.

A ‘pegada’ crítica e divertida utilizada por Plínio para ressaltar as diferenças entre o tipo de sociedade e modelo econômico defendidos pelo PSOl relativamente àqueles proferidos unanimemente pelos demais candidatos rendeu-lhe o ‘Trending Topics’ do Twitter mundial. O candidato chegou a ser o campeão mundial de citações no Twitter. Não mais poderia, portanto, ser tão acintosamente ignorado pela grande mídia.

Não é, obviamente, do interesse dos maiores veículos entrar na discussão das especificidades dos temas levantados pelo candidato, e que são justamente aqueles que o diferenciam dos demais. Até porque mexer nesses temas é cutucar os poderosos lobbies econômicos que atuam afinados com os maiores grupos de comunicação do país. Os grandes veículos passaram, assim, a ressaltar, nas várias manchetes que inundaram a mídia impressa e virtual durante e após o debate, o lado ‘provocativo’, de ‘franco atirador’ e ‘irônico’ do candidato.

Nada mal quando não se tem a menor ilusão no que se refere ao real posicionamento de nossa imprensa quanto aos ‘divergentes’, e para quem até agora ‘não existia’ – conforme salientado pelo próprio Plínio logo no início do debate. Mediante o imenso poder de reverberação propiciado pela internet, aqueles que não desistiram de fazer valer os seus direitos e a sua cidadania terão uma chance a mais de se deparar com um mínimo de dissonância no debate político de agora em diante.

A partir desse episódio, restam também algumas evidências para aqueles que pretendem uma atuação mais à esquerda no espectro político. Diante das óbvias e já tão divulgadas provocações e cutucadas do candidato do PSOL no sentido de conduzir a uma divergência mínima em uma discussão em seu âmago absolutamente convergente – como tantas vezes expresso pelo próprio candidato ao longo de todo o debate -, ficou claro que a maior postulante a representar uma alternativa política de fato no cenário nacional não cumpre em absoluto este papel.

É bom que os setores mais progressistas se atentem a este fato, e fiquem de olhos bem abertos. Afinal, já bastam as manipulações grosseiras levadas a cabo pelos setores mais à direita e também pela mídia em geral.

Em tempo: a mídia elege quem pode e quem não pode falar, quem é e quem não é candidato, e ficou apenas a trinca Dilma-Serra-Marina. O "furo" foi a lei que obriga a participação dos candidatos cujos partidos têm representação no Congresso nos debates de TV aberta, e por isso Plínio teve de ser convidado pela Band. No caso do debate Folha-UOL, que será transmitido pela Internet, o candidato não fará parte, já que a exigência para participação em debates na internet é um percentual de intenção de votos acima de 10%. Coisas do Brasil.

Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.



Voltei. Li muito sobre o debate da BAND na internet. De Reinaldo Azevedo, blogueiro da veja, passando pelo lulo-dilmista Paulo Henrique Amorim. Até ai, nada de muito significativo. Cada um puxou a sardinha para o seu lado. Assim como Nader, que escreve no site onde Plínio é conselheiro editorial, os outros também decretaram os seus vitoriosos. Eu perdi o debate. De repercussão televisiva, acompanhei uma análise feita na madrugada de domingo para segunda, também na BAND, no programa Canal Livre. Levando em consideração tudo, parece que Plínio foi mesmo o melhor no debate. Fica apenas uma pergunta: se o nome dele foi o top no tal twitter, quem além dos brasileiros usa isso?

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Zé Maria passou por aqui

A Paraíba recebeu um candidato a presidente nesta terça-feira. Eu não estive in loco, não tenho propriedade para reproduzir exatamente o dito ou o não dito pelo trotskista. Mas, ao tentar encontrar nos portais de notícias algo referenta a ilustre visita, me deparo com o silêncio, melhor, cegueira quase completa dos brucutus.

Digo quase porque o portal Paraiba1, tentáculo virtual do principal grupo de mídia paraibano, reprodutor dos signos globais nas terras do rio Sanhauá, estampou a visita em sua página principal. Obviamente ao final dela, depois de passar pelo embrólio jurídico que vem sendo o julgamento da legibilidade (ou não) de Cássio Cunha Lima.

Após ler o conteúdo, pensei "melhor seria se não tivesse uma única linha". Os motivos começam no título da matéria "Presidenciável do PSTU visita JP e defende o fim do bolsa família". Continuando a leitura, percebe-se um feito comum nas redações, em especial nos portais de notícias. Trata-se do texto não assinado. Assim como um filho sem pais, um texto com a definição 'da redação' no lugar do belo nome do repórter é uma anomalia.

A reportagem do Paraíba1 tem pai, isso é fato de simples comprovação. Os conhecedores das redações de portais sabem que o repórter é um faz tudo. Ele entrevista, faz as fotos, edita o texto, titula...

Assim, fica óbvio, foi a Camila Alves, creditada na foto da reportagem, a entrevista concedida pelo presidente nacional do PSTU. Já o texto final não posso garantir. Provavelmente ao chegar a redação e finalizar o texto mostrando que o candidato mostrou a vaibbilidade do socialismo, o redator tomou para si o filho e fez uma abertura à moda da casa.

"Em entrevista ao Paraíba1, o político, que também é presidente nacional do PSTU, revelou projetos radicais e se diz contra o Bolsa Família e a Transposição do Rio São Francisco". Pronto, o chefe já tinha dado nova cara ao texto.

Mas o que disse exatamente Zé Maria? Sobre o bolsa família "que esse povo precisa é de emprego. O governo precisa garantir trabalho e salário digno para as mais de 40 milhões de pessoas que dependem dessa ajuda do bolsa família".

E a Transposição? "Só vai beneficiar 4% da população e resolver os problemas das grandes empreiteiras. Nossa proposta para acabar com o problema das secas é que primeiro sejam realizadas um série de pequenas obras, a exemplo da construção de cisternas, que beneficiem toda a população e não só uma parcela dela. E segundo que o Governo apóie financeira e tecnologicamente os agricultores, fazendo um estudo de clima e solo e identificando qual tipo de cultura se adequa melhor à região".

Eu entendo Camila. Se é para assinar isso, é melhor ficar com as fotos. E que outros criem a criança.





segunda-feira, 7 de junho de 2010

Nova central sindical e unidade na esquerda, um debate pertinente

A sátira com o nome do blog não é piada.

Acabo de saber que o congresso realizado em Santos, que seria um passo a diante na construção de uma unidade real entre os setores da esquerda combativa, acabou dividido, com a Intersindical se retirando por conta do "hegemonismo" do PSTU que teria sua gota d'água na intransigência na escolha do nome da tal central: Conlutas-Intersindical Central Sindical Popular.

Obviamente que qualquer militante de mesa de bar, minimamente consciente do que acontece nesses espaços, sabe que os motivos vão além disso. Não caberá a este espaço refletir sobre os reais ou falsos motivos, não, apenas ressaltar a dificuldade da esquerda brasileira do séc. XXI tem em garantir o mínimo de unidade.

Antes ainda do congresso, um setor, composto maloritariamente pelo PCB já havia declarada que não participaria do congresso, já que a nova central abriria mão de um caráter orerário, sendo uma central que agrega movimentos popuares também.


No campo eleitoral a mesma ladainha. Primeiro a incoerência do PSol em deixar de lado pstu e pcb, aliados na luta pela esquerda, para um chamar Marina Silva a unidade. Depois, a desconsideração do pstu com o pcb, fazendo um lançamento público da pré-campanha de Zé Maria, sem ao menos informar ao PCB e por último o desgaste do PSol durante sua disputa interna, onde até o site foi tirado do ar por membros do partido.


A unidade parece impossível, pena para os lutadores soildários ao campo que constroe as lutas, pela para os trabalhadores brasileiros, pena ....



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Agora é oficial, o blog ficará fora do por algum tempo. Os trabalhos devem retornar em julho ou agosto.

Inté lá!

sábado, 10 de abril de 2010

O Psol escolheu seu candidato (ou não)

O promotor público aposentado Plínio Arruda Sampaio, 79, foi eleito no final da tarde deste sábado como o pré-candidato do PSOL à Presidência da República nas eleições deste ano. Sampaio recebeu todos os votos dos 89 delegados presentes à 3a Conferência Eleitoral Nacional. A decisão unânime confirma as expectativas criadas após a declaração de apoio da maioria dos parlamentares do partido à pré-candidatura de Plínio e as manifestações prévias de voto de pelo menos 78 dos 162 delegados eleitos nas conferências estaduais.
O ex-deputado federal Babá, que também concorria à indicação, decidiu, no último momento, retirar sua candidatura e chamou seus apoiadores a votarem em Plínio. Martiniano Cavalcante e os delegados que votariam nele como representante do PSOL não compareceram ao evento e sua candidatura, portanto, foi considerada retirada.
Para Plínio, o debate socialista enfrenta um dos momentos mais difíceis de sua história no Brasil, diante da sacralização da figura de Lula no conjunto da população. “O desafio é criar o consenso entre os excluídos e consciência política para enfrentar o capitalismo”, disse.
Entre os pontos que o PSOL deve defender na campanha, que pretende fazer o contraponto à falsa polarização entre PT e PSDB, estão: o fim do pagamento dos juros e a auditoria da dívida pública; a implementação de um verdadeiro programa de reforma agrária, incorporando o estabelecimento de um limite de 1000 hectares para as propriedades rurais; uma política de reforma urbana que tenha como base a desapropriação dos imóveis desocupados para especulação imobiliária no país; o combate à privatização das florestas, à transposição do Rio São Francisco, à construção da usina de Belo Monte e aos transgênicos; entre outros.
“Esta é uma hora histórica. Somos contra o sistema, queremos transformar a realidade. Este é o nosso desafio nesta campanha: falar a verdade e plantar a semente do socialismo em nossa sociedade”, declarou Plínio.
Em relação às alianças para o processo eleitoral, Plínio defendeu a retomada da frente de esquerda, com PCB e PSTU, repetindo a coligação realizada em 2006.

50 anos de vida pública
Com mais de 50 anos de vida pública, Plínio Arruda Sampaio é bacharel em Direito pela USP e mestre em desenvolvimento econômico internacional pela Universidade de Cornell (EUA). Foi deputado federal por três vezes, tendo relatado o projeto de reforma agrária do governo João Goulart. Com o golpe, engrossou a primeira lista de cassados e foi para o exílio. À época, o cargo de promotor público que exercia desde 1954 também foi cassado – só sendo reconhecido novamente em 1984, quando foi anistiado e aposentado. Foi diretor de programas de desenvolvimento da FAO, órgão da ONU para agricultura e alimentação, trabalhando em todos os países da América Latina e Caribe. Um dos fundadores do PT, deputado federal constituinte e candidato a governador em 1990 e em 2006, já pelo PSOL. Atualmente é presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA).