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domingo, 10 de janeiro de 2010

MPB: o que é?

"Música é algo para celebrar, não podemos tratá-la apenas como algo para entreter, é feita para mudar nossa maneira de ser e existir", essas são palavras de Fernando Aniteli, idealizador da trupe O Teatro Mágico e um dos fundadores do movimento Música Para Baixar (MPB).

Se a primeira frase pode levar-nos a acreditar que um novo mundo está nascendo, a posterior nos recoloca os pés no chão: este fantasmo que quando você libera a música você está abrindo mão. Nós sempre liberamso nosso material na internet e isso nunca nos prejudicou, muito pelo contrário".

As possibilidades de acesso aos novos, e velhos, bens culturais estão claramente potencializados, mesmo assim, a segunda observação de Aniteli esclarece que esta relação traz à reboque todo um contexto economico, ou seja, existe uma relação direta entre 'fazer cultura' e 'gerar riqueza' (deixando claro que este gerar riqueza não é no sentido marxiano).

Movimentos como o MPB não se colocam como, necessariamente, contra-hegemônico, mesmo buscando mais espaço dentro da sociedade civil, se limitam a utilização dos novos meios como forma de gerar algum lucro. Obvio que esta alternativa é imposta por sistema onde a produção cultural é apenas uma de suas faces.

Este debate sobre hegemonia se faz necessário para que não se confunda os avanços advindos das novas tecnologias como o anúncio da boa nova, como sendo este o caminho para a ransformaçao social, pelo contrário, ali está localizado todas as contradições existentes no mundo real, inclusive a disputa de hegemonia. Não se pode negar os benefícios, no sentido de trazer para mais próximo da sociedade civil a possibilidade de escolher o que ouvir, ler, assitir, produzir, assim como não podemos nos cegar para a íntima relação entre o que consumido na internet, sim consumido, e sua divulgação em outros meios mais massivos: Globo e G1; Folha e Uol; Ivete Sangalo e os programas de auditório. Quando se fala dos grande benefícios da internet, muitas vezes se esquece que tudo não voltou ao ponto zero, que a Televisão ainda é o veículo mais utilizado para as pessoas obterem informação. Deixo clara estas considerações, vamos ao MPB.

O Teatro Mágico iniciou um movimento chamado MPB que se opõe a toda uma estrutura vigente que prega o "pagou tocou". Segundo Aniteli "isto não quer dizer estou dando de graça, não valorizo, não me importo, é justamente o contrário, você é dono da sua música, não mais a Gravadora X, Y ou Z, você cria as licenças sob as quais quer reger sua obra".

O líder da trupe falava dos Creative Commons, uma alternativa à reserva total do direito autoral, "um novo sistema, construído com a lei atual de direitos autorais, que possibilita a você compartilhar suas criações com outros e utilizar música, filmes, imagens, e textos online que esteja marcados com uma licença Creative Commons", segundo o site creativecomuns.org.br. O mesmo site um exemplo interessante para explicar o processo: um baixista resolveu gravar um disco com as músicas do White Stripes, apenas acrescentando seu baixo, até uma nova capa ele colocou, acrescida do teu nome. Um belo dia ele encontrou o líder da banda e perguntou se havia algum problema, como a resposta foi negativa, o baixista continuou fazendo o trabalho, mas teria de deixar de praticar sua arte se a banda não o quisesse e, pior, nem todos terão a sorte de encontrar com aqueles de quem ele gostaria de usar parte do material. Por isso, a sigla CC significaraia que parte daquele material poderia ser usado, desde que com certa ponderações explícitas pelo autor.

Voltando ao MPB, uma frase citada por Aniteli em seu texto chamou-se atenção: "segundo Pena Schimicht o que prevalecerá a partir de agora é o talento e não mais o investimento". Tranquilamente, esta é uma afirmação, no mínimo, inocente, acreditar que o capital ficará olhando a expansão deste acesso sem, no mínimo, gerar lucro é um equívoco, mesmo assim, não se pode negar que o público possue um poder maior de decisão agora, nas palavars de Aniteli "ele quem vai alimentar o site, as comunidades, a divulgação e os rumso do grupo" e explica a nova realidade: "muitas vezes éo fã apaixonado pela banda que vai colocar todo o conteúdo de maneira livre na internet, se não fosse isso, milhares de músicos permaneceriam de fora do cenário atual, há a possibilidade de trabalho (sim! Dinheiro!) neste novo cenário" e finaliza " o que estamos falando aqui não é sobre a qualidade dos trabalhos envolvidos", deixando claro mais uma vez que não estamos falando de luta por hegemonia e sim por espaço no mercado.


Outro membro ilustre do MPB é o cantor e compositor Leoni, autor de sucessos como só pro meu prazer, garotos e muitos outros, eternizados nas vozes de Cazuza e Paula Toller. Ele também falou qual deve ser real objeto, segundo ele, quando se permite baixar músicas, por exemplo: "a música grátis tem que fazer parte de uma estratégia para divulgar e vender, seja música, ingressos de shows ou merchandising".

"Faço parte do música para baixar porque acredito que não haja como controlar o compartilhamento de música na internet", continuou Leoni. Um dos exemplos lembrados por Leoni sobre a importância benéfica do download é o artista/disco fora de catálogo, colocado no ostracismo pela gravadora e fica a pergunta: que direito tem a gravadora de impedir a sociedade de ter acesso a um bem cultural?

Na ponta do lápis, o preço pago pelo artista por divulgar sua música na ineternet não é tão caro assim. Primeiro porque nem todo mundo que baixa a música compraria o cd, ou seja, a divulgação é bem maior, sem falar da questão do jabá, dinheiro pago pelos artista e gravadores para que suas músicas toquem nas rádios, como bem diz Leoni "se comparado ao jabá, o compartilhamento de arquivos é uma benção para os artistas".

Muita coisa ainda precisa ser discutida neste sentido. Sites como o do Teatro Mágico ou Música Liquida são boas pedidas para aqueles que queriam entender melhor esta questão de musica para baixar e as possibilidades de produzir cultura.






quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Consideções sobre a música "popularesca" e o movimento Música Para Baixar (MPB)


Quer um conselho? Vá ao banheiro. Está sem vontade? Mesmo assim, vá ao banheiro. Aproveite e beba água e pegue alguma coisa para beliscar antes de voltar a colocar a bunda ai onde ela está agora e continuar lendo esta reflexão.

O motivo do conselho? O que aparecerá a partir de daqui a pouco não só é por demais extenso, como também é deveras interessante. Vai lá, ouve o que eu estou falando, mija, bebe água, come alguma pocaria e volta.

Democratização Proletkult

Eu no teu lugar estaria me pergunta o que diabos é proletkult, já teria aberto uma página do google para encontrar o que isto significa. Se você não encontrou o tal termo, eu explico. O militante das CPT e integrante da brigada Audivisual da Via Campesina Thalles Gomes Camêllo nos oferece uma explicação.

Em seu artigo entitulado Democratização Proletkult Thalles inicia com o anúncio de um tempo que não veio, o da transformação social do mundo pela via tecnológica: "um cinema feito não para os trabalhadores, mas pelos trabalhadores, um cinema com cheiro de povo, com calos não mãos", diz o autor.

Após o sonho, o acordar, a realidade pula a janela e grita a triste constatação: "Avanço tecnológico não significa democratização". A última frase resume bem o pensamento inicial de Thalles, demonstrando que não é, necessariamente, dizendo o que fazer que encontraremos os novos rumos e gêneos. Estamso diante, senhoras e senhores, de um debate que engloba técnica e estética.

Para este debate faz-se necessário o resgate do período revolucionário soviético. Com o Estado nas mãos dos operários e camponeses, as lideranças soviéticas sentiram a necessidade de expandir o poder dos trabalhadores para além dos limites políticos. É nesta conjuntura que é criada a Proletkult, abreviação da expressão russa proletarskaya kultura que siginifica cultura proletária.


A proletkult nasce no período revoucionário de 1917, porém, desvinculado do partido bolchevique. A idéia central da organização era, basicamente, transformar trabalhadores em artistas, recaindo nas costas destes os fundamentos da cultura da nova sociedade, ou seja, para aquele que faziam parte da proletkult, os trabalhadores deveriam iniciar do zero os marcos de uma nova era cultural, negando toda e qualquer forma de arte anterior, e classificando-a de burguesa.

Além de dificuldades como a alta taxa de analfabetismo do povo russo, a tentativa de construir produções artísticas do zero parecia equivocada, com embasamento cultural medíocre os artistas proletkultistas não conseguiam sair do clichê, da vastíssima produção, nada sobrou de esteticamente duradouro.

Um dos principais críticos do proletkult, o revulucionário Leon Trotsky, classificou o que era produzido pelo grupo como não sendo arte: "arte mal feita não é arte", finalizou o revolucionáiro russo que acreditava que o conformismo com esta arte mal feita tinha como pano de fundo um certo desprezo pelas massas: "não se trata de marxismo e sim de populismo reacionário", ou seja, os proletários tinham direito a uma arte tão qualificada quanto sua revolução.

Neste sentido, a reflexão final de Thalles vem a calhar, numa perspectiva de dialogar paralelamente so dois momentos, passado e presente: "não seria, dessa forma, a inclusão digital dos dias de hoje uma espécie de democratização proletkult"?

O que quer dizer Thalles? Talvez que se unirmos o potencial, como ferramenta de reflexão, das artes, juntamente com a capacidade de criar da classe trabalhadora parece ser o marco-zero para uma real avanço neste debate, pois, com certeza, precisamos buscar manerias para a real prática emancipatória.

Do Brega "popularesco" ao Calypso

Identificar no cenário atual o que podemos chamar de brega parece bem mais difícil do que há alguns anos. Em um determinado momento da construção da identidade musical do brasileiro, parecia claro que brega era tudo aquilo que se relacionava com o gosto popular, enquanto boa música, entitulada curiosamente de música popular brasileira, seria tudo o que "a classe que consome" consumia.

Sendo assim, nomer como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque seriam representantes da "boa música", legítimos nomes da MPB. Já Bartô Galeno, Amado Batista e Reginaldo Rossi eram os representantes da música de má qualidade, ou seja, brega. Hoje, em um momento em que nomes como Zeca Baleiro ou Gal Costa morrem de amores por esses tais bregas a compreensão e separação entre ambos os campos é dificultada.

Depois de muito criminalizar os músicos que por anos fizeram a cabeça da periferia, nos dias atuais a grande mídia cede espaço em sua programação para divulgar os fenômenos "popularescos". Esta reabertura tem como marco inicial a popularização da Banda Calypso e como fenômeno mais recente a Banda Djavu, porém, este fenômeno, se é qua ainda podemos chamar assim este movimento, é muito maior do que pode filtrar a grande mídia.

Nas palavras do antropólogo Hermano Vianna, idealizador do portal overmundo e do programa da Rede Globo Central da Periferia, "é a periferia produzindo cultura para a própria periferia sem pedir licença para os grandes centros".

Provavelmente o grande exemplo deste novo momento é o Pará. O calypso o tecnobrega, o melody, o bregapop e vários outros ritmos que se utilizam de uma maneira muito original para produzir e distribuir seus bens culturais: "As músicas saem direto dos computadores dos estúdios periféricos e vão parar nos camelôs e no circuito das festas de aparelhagem", explica Vianna.


continua...