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quarta-feira, 31 de março de 2010

Sistema de cotas na UFPB

Ai vai uma boa notícia. Depois de muita luta dicussão, a UFPB aprovou o sistema de cotas. Leia aqui a matéria na íntegra:


As cotas têm recorte social e étnico-racial, correspondente à sua representação no Estado, de acordo com o IBGE. Aos portadores de deficiência será reservada a cota de 5%




O Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFPB, decidiu, em reunião realizada na manhã desta terça-feira, 30, reservar 25% das vagas, já a partir do próximo Processo Seletivo Seriado para estudantes que cursaram todo o ensino médio e pelo menos três series do ensino fundamental em escolas públicas.

A decisão foi aprovada em reunião do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) da UFPB por 20 votos favoráves, dois votos contrários e três abstenções.

No Consepe, coube à professora Maria Creusa, do Centro de Educação, emitir parecer sobre a proposta encaminhada pela UFPB por meio da Pró-reitoria de Graduação.

O Conselho decidiu pela reserva de vagas para os estudantes que cursaram todo o ensino médio e pelo menos três séries do ensino fundamental em escolas públicas, obedecendo a seguinte escala: 25% das vagas de todos os cursos para 2011; 30% das vagas de todos os cursos para 2012; 35% das vagas de todos os cursos para 2013; 40% das vagas de todos os cursos em 2014.

As cotas têm primeiro, recorte social e, segundo, recorte étnico-racial, de modo que cada segmento - populações negra e indígena - terá o percentual correspondente a sua representação no Estado da Paraíba, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Aos portadores de deficiência será reservada a cota de 5%.

REPERCUSSÃO - A iniciativa da UFPB foi aplaudida e elogiada por diversos representantes da sociedade civil. Para a professora Solange Rocha, da Organização das Mulheres Negras da Paraíba (Bamidelê), a decisão da UFPB representa uma grande mudança na educação. "Os jovens negros e indígenas das camadas populares agora podem vislumbrar a possibilidade de ingressar na universidade, de modo que todos os segmentos sociais estejam representados na instituição”.

O representante do Movimento do Espírito Lilás (MEL), Felipe dos Santos, destacou que a UFPB dá um passo adiante no reconhecimento das desigualdades étnicas, raciais e sociais. “Quando a instituição aprova uma prposta como essa está democratizando o acesso ao ensino superior para negros e negras e quilombolas e ao mesmo tempo em que atende a pauta de reivindicação do movimento negro”.

O representante da União Nacional do Estudantes (UNE) na Paraíba, Rildian Pires Filho, disse que a aprovação do sistema de cotas é um passo histórico. “Com essa aprovação a UFPB garante o acesso de estudantes oriundos de parcela da população historicamente excluídas”.

O reitor da UFPB, Rômulo Polari, ressaltou que a questão das cotas vem sendo discutida e debatida com a sociedade e com a comunidade universitária há pelo menos quatro anos. Segundo Polari, a decisão chegou na hora certa. "A aprovação da política de cotas na UFPB se baseou em iniciativas de outras instituições de ensino superior. Isso fez com que a decisão fosse tomada de forma mais madura e consciente".

Participaram da reunião para aprovação de cotas representantes das entidades: Organização das Mulheres Negras da Paraíba (Bamidelê), o movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bisexuais e Transexuais), Diretório Central dos Estudantes (DCE), União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), Associação dos Estudantes da Paraíba (AESP), Juventude Negra, Núcleo de Estudantes Negras da UFPB, Associação dos Deficientes (ASDEF), Associação Nacional dos Estudantes Livres (ANEL) e o representante do Sindicato dos Trabalhadores em Ensino Superior da Paraíba (Sintespb).



Duas ressalvas importantes: o DCE da UFPB é majoritariamente do DEM e minoritariamente da UJS (juventude do PC do B), esta última é majoritária na UNE.

terça-feira, 30 de março de 2010

Trabalhadores do Canadá resistem

Canadenses chamando brasileiros de imperialistas? Entenda o motivo.


(Wayne Fraser, representante do Sindicato de Mineiros, em greve há oito meses na Vale Inco, Canadá - O Estado de São Paulo, 16 de março de 2010)


Como canadense que mora no Brasil há 10 anos, fiquei impressionado quando li a reportagem que traz a frase acima. Trouxe-me lembranças das relações entre dois países relativamente desconhecidos entre si. E de algum dos episódios que os envolvem: a proibição da carne brasileira pelo Canadá em 2001; a acirrada disputa comercial entre Embraer e Bombardier na mesma década; e até a longa atuação da multinacional canadense Light em São Paulo e no Rio de Janeiro no ramo de transporte urbano e energia elétrica nas primeiras décadas do século XX e de sua herdeira, a Brascan, que é atualmente dona de numerosas empresas no Brasil, inclusive alguns dos mais elegantes shoppings nas grandes capitais.


Mas um canadense chamando uma empresa brasileira de imperialista? Como pode?


A feroz disputa entre a enorme multinacional Vale, que comprou a Inco há quatro anos, e os 3,5 mil trabalhadores organizados pelo United Steelworkers (USW) nas minas de níquel em duas províncias canadenses gira em torno da tentativa da empresa terceirizar 400 mineiros e reduzir o fundo de pensão dos trabalhadores. Na semana passada, a empresa sinalizou que vai contratar centenas de temporários dentro de duas semanas para furar a greve. Em resposta, o comando da greve do USW, além de avisar a Vale de que fura-greves provavelmente vão ser enfrentados inclusive fisicamente, convocou um encontro internacional no dia 22/03 de sindicatos de todos os países onde a Vale opera para organizar ações internacionais. Do Brasil, CUT e Conlutas mandarão representantes.


A greve reflete três realidades marcantes da atual economia mundial: 1) a tentativa de empresas multinacionais e nacionais de aumentar seus lucros através da terceirização de mão-de-obra e de reduções nas pensões, entre outros métodos; 2) o crescente papel multinacional do capitalismo brasileiro; 3) as boas possibilidades de construir uma solidariedade internacional entre trabalhadores.


Terceirizar e cortar as pensões não são práticas nada novas por empresas multinacionais ou nacionais. Desde o surgimento de neoliberalismo nos anos 1970, são práticas comuns no mundo inteiro, sejam em empresas canadenses ou brasileiras.


O que é relativamente nova é a atuação de multinacionais brasileiras. A mídia brasileira e o governo Lula freqüentemente nos avisam com orgulho que empresas e bancos brasileiros são cada vez mais líderes internacionais no mundo dos negócios. Além de serem sete das dez das maiores empresas na América Latina, empresas multinacionais brasileiras como Petrobras, Vale, Ambev, Itaú e Bradesco estão entre as 500 maiores empresas do mundo. Não deveria surpreender ninguém, portanto, que como todos os outros capitalistas, as multinacionais brasileiras, vão atuar para aumentar seus lucros, explorando os trabalhadores, seja na Bolívia, Venezuela, Equador, Cuba ou Canadá.


O que pode surpreender é a atuação do Estado brasileiro. Faltam pesquisas sobre esse tema, mas há sinais que o Brasil, além de já ter o maior peso diplomático entre os países da América Latina, está cada vez mais ajudando as multinacionais brasileiras a aumentar suas operações.


Gigantes como a construtora Odebrecht, já têm aproveitado a disponibilidade de crédito do banco estatal BNDES para iniciar obras em vários países da América Latina, sempre com a condição que esses países comprem matéria-prima de empresas brasileiras para construir as obras, além de pagar o empréstimo. É necessário que os estudiosos comecem a entender exatamente o papel das multinacionais brasileiras e o papel do Estado brasileiro nesse processo.


A terceira, e também não tão nova, realidade é a possibilidade de solidariedade internacional entre os trabalhadores. É maravilhoso que os trabalhadores da Vale em vários países estejam se organizando para ajudar os mineiros canadenses. Esperamos que consigam se mobilizar para acabar com as tentativas da empresa de efetivamente destruir o sindicato dos mineiros. De fato, os mineiros da Vale no Canadá têm uma longa tradição de resistência e de esquerda, conseguindo manter suas organizações e uma qualidade de vida digna frente aos ataques dos patrões e sempre contando com a solidariedade de outros trabalhadores. Mostraram que o único jeito de trabalhadores canadenses e brasileiros lutarem contra empresas brasileiras ou canadenses é construir uma solidariedade de classe através da luta unificada.

Minha Casa, minha luta!

Jornada Nacional de Lutas

Uma vez mais a voz do povo se levanta em lutas espalhadas pelos vários estados deste país que explora injustamente os trabalhadores que o construíram. Muitos são os movimentos, organizações e vozes que se juntam nesta jornada de denuncias e reivindicações.


Para que nossa voz e organização alcancem muito mais trabalhadores, nos unimos na Frente Nacional de Resistência Urbana que reúne organizações e movimentos populares de vários estados com o objetivo de discutir, decidir e encaminhar coletivamente as lutas pelas demandas e reivindicações do povo que vive nas cidades e que sofre com a falta de saneamento, transporte público, moradia e etc, enfim, com a falta de uma ampla e popular reforma urbana no Brasil.


Juntos e em luta, lançamos hoje a Campanha MINHA CASA, MINHA LUTA. Queremos com ela denunciar o descaso com que tratam o povo pobre, trabalhador e explorado do país, que necessita de moradia, como também o fracasso de políticas, como o Programa Minha Casa, Minha Vida do Governo Lula, criado não para atender às demandas urgentes da classe trabalhadora, mas para socorrer a indústria da construção civil e setores do capital, abatidos pela crise mundial do capitalismo, que atingiu as economias de vários países, inclusive o Brasil, em 2008.


Logo no começo da crise no país, o Governo Lula lançou o Programa Minha Casa, Minha Vida, anunciando que atenderia às classes populares e mais, comprometeu-se, mediante acordo, com os movimentos populares pela moradia de que a maior parte das habitações construídas seria destinada aos integrantes dos movimentos, ou seja, às camadas mais sofridas da população.


Mas a máscara caiu e o Programa Minha Casa, Minha Vida mostrou, nos últimos meses, aquilo que realmente é: um programa de auxílio aos capitalistas da construção civil, imobiliárias e bancos, que ganham milhões com os programas públicos de construção e vendas de terrenos, casas e apartamentos. O programa Minha Casa, Minha Vida se destina apenas a um determinado setor da classe média, com melhor salário, e não para os trabalhadores pobres e explorados, que não ganham o suficiente nem para comer. Além do mais, para 1 milhão de casas que vão ser feitas, já foram feitas 17 milhões de inscrições e mais da metade das casas será entregue a quem ganha mais de R$1.500,00 reais.


Além da falta de moradias, a condição dos trabalhadores desempregados, em situação de informalidade e precariedade, somam-se as condições de abandono das ocupações, bairros populares, cortiços e favelas, completamente órfãos de serviços de saúde, educação e saneamento básico. Ressaltem-se ainda as condições desumanas, onde reinam as mais vis desigualdades sociais e econômicas, além da violência reacionária e a brutalidade com que são tratados os moradores da periferia das grandes cidades, por meio da ação do Estado e do seu braço armando: a polícia.


A CAMPANHA MINHA CASA, MINHA LUTA vem denunciar o descaso em relação aos explorados pelo Governo Federal de Lula da Silva e pelos governos estaduais e municipais. Quando eleito, Lula prometeu atender às necessidades mais elementares da população pobre e desprotegida, atender às reivindicações dos servidores públicos e assalariados, valorizar os serviços públicos e incrementar as políticas públicas na saúde, educação e moradia popular. Entretanto, os dois governos de Lula mostraram um profundo comprometimento com o capital nacional e internacional, beneficiando os ricos, os bancos, o agronegócio, o setor da construção civil, enfim, os capitalistas.


A CAMPANHA MINHA CASA, MINHA LUTA deixa claro que os trabalhadores e demais explorados só conseguirão concretizar as suas reivindicações com o combate cotidiano nas ruas, através da ação direta das massas, por seus métodos próprios de luta: passeatas, manifestações, marchas, assembléias, ocupações etc. Não temos qualquer ilusão de que o Programa Minha Casa, Minha Vida venha, de fato, ser revertido em proveito dos explorados, ainda mais quando se têm neste momento provas concretas de que os maiores beneficiados são os capitalistas e não os trabalhadores e desempregados.


A CAMPANHA MINHA CASA, MINHA LUTA defende a unidade dos explorados, do campo e da cidade, em torno de suas reivindicações essenciais, em particular do acesso à moradia, que se encontra articulada aos direitos sociais à saúde, educação, trabalho e saneamento. Durante o mês de março, por ocasião do Fórum Urbano Mundial, a Frente Nacional de Resistência Urbana lança a campanha pelo direito à moradia e realiza uma série de mobilizações e manifestações em vários estados, tendo em vista mostrar a nossa indignação com os rumos do Programa Minha Casa, Minha Vida e
das políticas públicas de habitação. Defendemos:


► a efetividade do direito à moradia em proveito da população trabalhadora (empregada e desempregada), do campo e da cidade;
► o acesso às políticas públicas de saúde, educação e saneamento básico nas ocupações, bairros populares, cortiços e favelas;
► o atendimento das reivindicações específicas das mulheres trabalhadoras e da juventude explorada dos movimentos e organizações populares;
► o combate a toda e qualquer tipo de discriminação da população negra pobre e ao processo de militarização e criminalização das periferias e dos movimentos populares;
► Garantia de não remoção das populações atingidas pelas intervenções urbanas, com prioridade de política de ocupação de imóveis vazios e/ou subutilizados.


Por fim, a CAMPANHA MINHA CASA, MINHA LUTA deixa claro que o problema da moradia e o acesso às políticas públicas de saúde, educação, saneamento, transporte e lazer encontra um obstáculo: a sociedade capitalista, fundada na exploração do trabalho pelo capital e na propriedade privada dos meios de produção. Por isso, a moradia, tal como todos os demais bens produzidos pelo trabalho, é transformada em mercadoria e só pelo dinheiro se tem acesso a ela. Portanto, a luta pela moradia, saúde, educação, saneamento, transporte e lazer articula-se necessariamente com a luta pelo socialismo, por uma sociedade baseada na propriedade coletiva dos meios de produção e no trabalho associado.


Viva os movimentos de luta pela moradia! Viva a luta dos trabalhadores por suas reivindicações e demandas! Viva a luta pelo socialismo!

Coseas ocupada!

Os estudantes continuam fazendo seus rebuliços! A casa de estudantes da USP é um exemplo disso. Veja:

CARTA ABERTA
“Perfil para dizer basta”

Para um estudante de baixa renda, a falta de um lugar para morar e de condições para se alimentar podem significar a desistência de cursar o ensino superior. Os que, apesar disso, ainda não desistiram, vêm passando por muitas dificuldades para cursar a graduação na USP, por conta da restrição cada vez maior nas políticas de permanência. Os moradores do CRUSP tentaram incessantemente solucionar estes problemas por meio do diálogo com a direção da Coordenadoria de Assistência Social da USP (COSEAS), que não demonstrou nenhuma disposição para resolvê­los. Ao contrário: sua direção tentou intimidar os moradores presentes nas reuniões de negociação, não cedeu sequer vagas emergenciais suficientes para os calouros de 2010, deixando 100 pessoas de fora, e negligenciou todas as outras reivindicações. Como se não bastasse, a diretora Rosa Godoy apresentou, diante de uma câmera, relatórios produzidos por um serviço interno de espionagem que viola a nossa privacidade. Esses relatórios são anexados aos documentos de avaliação “socio­econômica” de moradores do CRUSP, submetendo a concessão e a continuidade das bolsas a critérios obscuros, justificados por apontamentos de “agentes de segurança”, pois o intuito não é realmente verificar a condição sócio­econômica dos estudantes e sim administrar os recursos insuficientes que a universidade destina à assistência estudantil, excluindo o maior número de pessoas possível.

A vigilância de nossas vidas privadas é um fato escandaloso e inadmissível. O aparato de vigilância de Rosa Godoy tem outros objetivos que não a nossa segurança como, por exemplo, reunir dados para a tese sobre “saúde coletiva” da Marília Zalaf. Será um acaso que por vezes se condicione a permanência de um estudante na vaga da moradia à submissão do mesmo a um tratamento psiquiátrico? (Disso há provas documentais). No conto “O Alienista” de Machado de Assis, o “médico da alma” Simão Bacamarte vai internando um a um todos os habitantes da cidade de Itaguaí no hospício. Quando finalmente estão todos internados ele conclui, à luz da ciência, que não é possível que sejam todos loucos. O louco devia ser ele mesmo, que decide internar­se a si próprio. Marília Zalaf é nossa Simão Bacamarte. Outra função da vigilância é registrar tudo o que fazemos para o caso de poderem usar isso contra nós. Se acolhemos um estudante excluído pelo processo míope de seleção, sem “perfil” para morar e comer, fica registrado que nós abrigamos “hóspedes irregulares”. Além de eufemismo para a exclusão, esse selo burocrático pode designar qualquer visita (mesmo esporádica!) que recebamos. Até mesmo filhos de moradores são “hóspede irregulares” nas fichas das portarias, como o bebê de dois meses que recebeu uma ordem de despejo. Também há relatórios dos vigias à COSEAS a respeito de pequenas confraternizações, mesmo “sem reclamações”. E até quando discutimos coletivamente nossos problemas, isso configura para a instituição um desvio de conduta. Relatórios do serviço de mexericos e espionagem da COSEAS descrevem detalhadamente nossas assembléias, com assuntos discutidos e identificação por nome, apartamento e até apelido das pessoas presentes. Se uma assembléia é assunto da segurança então a discussão política deve ser crime no entendimento da direção desta Coordenadoria. Política só é crime em regimes de exceção. Mesmo o regimento interno do CRUSP, que não teve participação de moradores em sua elaboração, prevê nosso direito a discutir nossos problemas. Não estamos em “1984” e o Big Brother é na Globo, não no CRUSP. Não aceitamos a bisbilhotice de Rosa Godoy.

A quantidade exata de vagas insuficientes é de difícil avaliação. Em primeiro lugar, não sabemos ao certo quantos desistem do curso por terem sua vaga recusada. Em segundo lugar, esse número ainda não responderia a questão satisfatoriamente. É sabido que nem todos os que precisam de moradia sabem da existência das políticas de permanência, pois esta coordenadoria se esforça muito pouco para divulgá­-las. Além disso, os dados de solicitação negada de bolsas geralmente são ocultos, e a Comissão Jurídica da USP delibera a não divulgação das listas de classificados e não­-classificados a partir do ano de 2006, o que deixa o processo seletivo ainda menos transparente. A demanda real é maior do que aquela que a COSEAS é capaz de registrar. E isso não é por acaso: é resultado de um amplo conjunto de estratagemas de sua direção para esquivar­-se do verdadeiro problema: falta de vagas. Pura e simplesmente falta de vagas, por conta de uma política histórica da reitoria da USP de restrição, demolição de blocos da moradia e transformação de outros em organismos burocráticos da universidade. Assim, podemos afirmar que, todo ano, pelo menos 500 pessoas têm a bolsa­ moradia negada. No ano de 2008, especificamente, sabemos que 800 pessoas ficaram nesta condição. E a cada ano a demanda cresce.

Neste ano, a diretora da Divisão de Promoção Social Marisa Luppi pretendia marcar o fim das inscrições para o alojamento emergencial para o dia 22 de fevereiro (primeiro dia de aulas). Desse modo, a maioria dos calouros perderia a data. Só os que, num lance de sorte, soubessem a tempo poderiam se inscrever. A papelada do processo seletivo daria a ilusão de que sobraram vagas. É com esse tipo de ilusionismo que a Sra. Rosa Godoy tenta enganar a todos. É esse tipo de truque que se tenta travestir de ciência, citando números que não correspondem a nada, meros argumentos de autoridade. Eis aí um flagrante de um dos critérios que se adota: a sorte. Por aí podemos medir a competência desta coordenadoria para gerir o processo de seleção do CRUSP. Se o critério é a sorte não são necessárias as enormes despesas com os salários da direção da COSEAS, basta que a universidade adquira uma roleta ou que os estudantes tirem as vagas no palitinho. Outro dado interessante: na seleção do alojamento emergencial deste ano, descobrimos a seguinte pérola: um aluno com bolsa negada tinha a mesma pontuação que um outro aluno, que ganhou a bolsa. O que tirou a bolsa de um deles foi estudar no período matutino: claro, se você acorda cedo então tem “perfil” pra passar a tarde inteira voltando pra casa. Já no processo seletivo para uma vaga permanente existem três critérios pontuando o quesito distância: gasto com transporte, tempo gasto pra chegar e a propria distância. Enquanto critérios que são cruciais, como renda, são descaracterizados numa tabela de cálculo totalmente furada. Exemplo: quanto mais pessoas desempregadas há na família menos pontos ganha o estudante. Como se as camadas mais pobres da sociedade não sofressem com o desemprego. É óbvia a mensagem velada de Rosa Godoy nesse caso: um desempregado, potencial gerador de renda, deveria estar trabalhando!

Mas o absurdo pode ser ainda mais grotesco: em reunião com a AMORCRUSP (16/10/2009), Rosa Godoy disse não haver expulsões noturnas e nem diurnas de moradores pois, segundo nosso regimento, estas expulsões só poderiam existir depois dos processos passarem por uma comissão mista, que não se reúne há mais de um ano. Depois, em outra reunião(18/11/2009), para evitar a assinatura de uma declaração, disse que não era bem assim, que verificou e descobriu que houve alguns casos. Nós que convivemos nesta moradia sabemos das atrocidades que acontecem nas madrugadas, escondidas na periferia da Cidade Universitária. Registremos um exemplo estarrecedor: há quatro anos um morador foi surpreendido de madrugada com a entrada brusca de agentes de seguraça da COSEAS em seu apartamento, que vieram expulsar seu hóspede, sem portarem nenhum mandado legal para isso. Por tentar chamar a atenção de outros moradores para o fato acionando um alarme de incêndio, nosso colega foi detido e depois preso por alguns dias, episódio que lhe acarretou todos os transtornos imagináveis.

É clara a implementação de uma política de controle e repressão sobre os estudantes que necessitam de políticas de permanência, e também e evidente a exploração dos funcionários desta instituição. Aos estudantes pobres: criminalização e exclusão; Aos trabalhadores: super­exploração. Diante de todos os fatos expostos, percebe­se que a classe trabalhadora só é desejada na USP para servir calada. Sob condições precárias e salários aviltantes, os funcionários dos restaurantes universitários há anos vêm reivindicando melhores condições. Muitos adquirem lesões físicas (como tendinite, bursite) por conta do trabalho pesado e do número reduzido de funcionários (até o ano passado a defasagem era de 52 funcionarios). E a reitoria da USP, junto com a direção da COSEAS, só tem respondido com terceirizações, que precarizam ainda mais o trabalho e os afasta de responsabilidades trabalhistas.

O corte das 600 antigas “bolsas­-trabalho” (que já não eram satisfatórias, pois exigiam que os alunos cumprissem tarefas que na verdade caberiam a novos funcionários), um programa que garantia a possibilidade de renda para alguns estudantes, também causou muitos transtornos nas nossas vidas. A reitoria da USP afirma que tais bolsas foram substituídas. Mentira! O que temos hoje são algumas bolsas de “pesquisa”, vinculadas a critérios meritocráticos e também obscuros, uma vez que dependem da opinião pessoal de um professor. E que custam menos pra reitoria pois as antigas bolsas eram vinculadas ao salário mínimo (hoje R$510,00) enquanto as estáticas bolsas “ensinar com pesquisa” e “aprender com cultura e extensão” são de R$300,00. A burocracia universitária realmente nos acha incompetentes e o belo discurso retórico de Rosa Godoy acha que nos convence, mas também sabemos fazer simples continhas de multiplicação pra saber que 600 bolsas de um salário mínimo custariam a universidade hoje R$336.000,00 emquanto as 900 atuais custam R$270.000,00, uma redução de quase 20% em nossos direitos. Queremos melhores condições para estudar, que é o que um estudante tem que fazer e por isso exigimos a criação de bolsas de estudo (não vinculadas a nenhuma atividade em substituição às antigas bolsas cortadas), com critérios puramente sócio­econômicos.

Por vigiar nossas vidas privadas, por camuflar e ignorar o problema das vagas insuficientes e limitar­-se a administrar essa precariedade, por usar critérios de seleção absolutamente descabidos, pela desumanidade das expulsões arbitrárias, pelo descaso com os funcionários e por seus argumentos ilógicos, que desdenham o debate por se amparar na autoridade, não acreditamos na competência da direção da COSEAS para gerir o CRUSP. O diálogo nos foi negado.

E por tudo isso, exigimos:

1.Mais vagas na moradia.
◦Que seja atendida de imediato a demanda por alojamento emergencial.
◦Que os espaços da moradia sejam usados para moradia e não por sucursais da COSEAS (terreo do B, terreo do E e este espaço do G) que já tem sede própria.
◦Desocupação dos nossos blocos K e L que foram invadidos pela reitoria.
◦Conclusão das obras do novo bloco da moradia.
◦Criação de um programa de ampliação das vagas anualmente.
2.Desmantelamento completo do serviço ilegal de vigilância e fim das práticas violentas da COSEAS.
◦Realocação profissional dos agentes de segurança da COSEAS.
◦Fim da função de elaboração de relatórios por parte dos agentes da portaria do CRUSP.
◦Fim da interferência das assistentes sociais na vida pessoal e política dos cruspianos.
3.Fim das expulsões arbitrárias de estudantes da moradia.
◦Que comissões de moradores analisem os casos de término de curso.
◦Que a deliberação a respeito da saída de moradores seja de competência da Assembleia Geral de Moradores do CRUSP.
4.Afastamento das coordenadoras da COSEAS de seus cargos: Marília Zalaf, Marisa Luppi e Rosa Godoy, responsáveis pelo “Programa de ação comunitária e Segurança.”
5.Autonomia dos estudantes nos espaços cruspianos e sobre os processos seletivos para os programas de permanência.
◦Que a COSEAS retome sua função de zeladoria.
6.Contratação de mais funcionários para os restaurantes universitários e melhoria das condições desumanas de trabalho, de acordo com as reivindicações do SINTUSP.
7.Substituição de fato das “bolsas­-trabalho” por uma bolsa de estudos com critérios exclusivamente sócio­-econômicos.
8.Que não sejamos obrigados a uma jornada dupla (trabalho e estudo) para suprir nossas necessidades básicas.
São Paulo, 22 de março de 2010
A Ocupação

Protesto!!

Nesta última quinta-feira, dia 25, estudantes do Diretório Central da UFSC protestaram contra a expansão inconsequente que está em vigor na UFSC em ocasião da inauguração de um lago na mesma instituição. Em protesto, os estudantes pularam no lago durante a solenidade, na presença do Reitor e do Secretário de Educação de SC.

O porquê do ato: http://www.dce. ufsc.br/

Vídeo do Ato: http://www.youtube. com/watch? v=-T10EgI8DJY

Divulgação na mídia: http://www.clicrbs. com.br/diariocat arinense/ jsp/default. jsp?uf=2&newsID=a2851754. htm

Lançamentos

Lançamentos!

A editora Boitempo é conhecida e reconhecida pela ousadia de suas publicações, sempre no sentido de promover a construção crítica. Aqui mandamos alguns dos próximos títulos que veremos com o selo da editora nos próximso meses.


Sobre a questão judaica

de Karl Marx

Sinopse

Neste trabalho, Marx expôs suas reflexões acerca das condições dos judeus alemães e estabeleceu propostas para a solução de suas questões. Publicado em 1844, foi escrito para os Anais Franco-Alemães e traduz a passagem definitiva de Marx para o materialismo e o comunismo. Acompanham o volume cartas trocadas por Marx e Arnold Ruge, publicadas nos Anais, um prefácio e um ensaio do filósofo francês recentemente falecido, Daniel Bensaid, que atualizam a discussão a respeito da “questão judaica”. Lançamento previsto para abril






A atualidade histórica da ofensiva socialista

alternativa radical ao sistema parlamentar

de István Mészáros


Sinopse

Nesta obra, István Mészáros, um dos maiores pensadores marxista da atualidade, se debruça sobre a crise política vivenciada em todo o mundo – incluindo as democracias parlamentares dos países capitalistas mais avançados –, demonstrando como ela faz parte do agravamento da crise estrutural do sistema do capital. Mészáros evidencia os limites do parlamentarismo enquanto procedimento institucional que cerceia as possibilidades de mudanças significativas na estrutura sociopolítica preestabelecida. Lançamento previsto para abril







Prolegômenos à ontologia do ser social

questões de princípio a uma ontologia hoje tornada possível

de Georg Lukács


Sinopse

Lukács é considerado um dos pensadores mais importantes da cultura marxista e Prolegômenos é seu último trabalho filosófico e uma espécie de “testamento”. Traduzido diretamente do alemão, por Lya Luft e Rodnei Nascimento, representa o esforço derradeiro do autor húngaro de reescrever aspectos formais anteriormente tratados em sua Ontologia propriamente dita. A edição que a Boitempo prepara, supervisionada pela professora da UFMG Ester Vaisman, vem com orelha assinada por José Paulo Netto e posfácio do romeno Nicolas Tertulian. Lançamento previsto para maio







A linguagem do império

léxico da ideologia estadunidense

de Domenico Losurdo


Sinopse

Com a desintegração da URSS e o fi m daquela experiência de socialismo, o império estadunidense – a fim de justificar o controle do mundo e a crescente militarização – construiu um verdadeiro Tribunal do Santo Ofício para o qual os sete pecados capitais são: terrorismo, fundamentalismo, filoislamismo, antissionismo, antissemitismo, antiamericanismo e ódio ao Ocidente. Losurdo faz a crítica desses argumentos, localiza suas origens, seus significados, suas contradições e demonstra como tudo não passa de um discurso que busca justificar a pretensão de um domínio universal. Lançamento previsto para maio

sexta-feira, 26 de março de 2010

Para não esquecer:

Hoje, porém, gostaria de falar de outra etapa, daquela que começará a partir desta formatura. Qual o significado de ser jornalista nos dias atuais? Para que serve o jornalismo no país em que vivemos? Qual é, afinal de contas, a missão que temos como jornalistas?

Que me desculpem os profissionais das outras áreas, mas o escritor Gabriel García Márquez tem razão: "O jornalismo é a melhor profissão do mundo." Para quem é curioso, inquieto, para quem gosta de ouvir e contar boas histórias, para quem se interessa pelas coisas da vida, não existe profissão mais fascinante.

O passaporte para revelar histórias não contadas, para contar histórias esquecidas, para investigar, para descobrir aquilo que à primeira vista ou à vista da maioria parece banal, mas que pode ser algo extraordinário. O jornalismo, não se esqueçam disto, nos dá a possibilidade de denunciar o que está errado e de anunciar o que pode ser.

Tomar posição

Como vocês sabem, esta busca pela melhor versão possível da verdade pressupõe persistência e coragem. É, obviamente, um percurso complicado, com obstáculos dos mais diversos, mas também muito gratificante.

Se me permitem algumas dicas, não sigam pelo caminho mais fácil ou mais cômodo; sigam o caminho que considerarem ser o mais justo, sempre; não se deixem seduzir pelo poder, não se deixem contaminar pela arrogância; não confundam equilíbrio com indiferença, nem ceticismo com cinismo; ser ético é tomar posição.

Tomar posição não significa ver o mundo entre bons e maus, de forma maniqueísta. Pelo contrário, significa ir à raiz, saber contextualizar cada história e explicá-la de forma coerente e clara. Tomar posição é conhecer bem o chão que estamos pisando, para que as falsas aparências não nos enganem ou nos confundam. Tomar posição é estar encharcado de realidade.


E o nosso mundo, onde quase dois bilhões de seres humanos vivem privados dos direitos mais elementares, não deixa espaço para ilusões. O Brasil, apesar de alguns avanços nas últimas décadas, ainda é a terra da desigualdade, fruto da indecente concentração de riqueza e de renda. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 10% dos brasileiros mais ricos detêm 43% da riqueza nacional, enquanto os 10% mais pobres, apenas 1%.

Tomar posição é, entre outras coisas, revelar essa realidade, quase sempre mascarada por números e estatísticas, às vezes equivocados, às vezes precisos, mas sempre frios e distantes. Essa realidade tem nome e sobrenome, tem história. E não é natural. Essa é a missão do jornalista, esse é o grande desafio: Mostrar aquilo que as vozes oficiais tentam camuflar, fiscalizando o poder, seja ele qual for.

A paixão é o segredo

Então, como professor, como repórter, como alguém que já vivenciou uma injustiça por parte da imprensa, eu digo a vocês: jornalismo é a melhor profissão do mundo, mas não sejam ingênuos, investiguem sempre, não briguem com os fatos, duvidem, chequem as informações várias vezes e tenham sempre, sempre em mente, que vocês estão lidando com a vida e a história de outras pessoas.

Caros formandos, caros colegas: usem esta profissão – seja como repórteres, editores, blogueiros, assessores de imprensa, diagramadores, fotógrafos, pesquisadores, seja em que área do jornalismo for, para fazer luz sobre o nosso mundo. Façam que o jornalismo seja sempre um caminho para que se contem as histórias que precisam ser contadas.

E, mais importante de tudo, façam isso com paixão porque é este o segredo dos trabalhos bem feitos e dos profissionais bem-sucedidos. É a paixão que faz com que a gente ouse, desafie as probabilidades, surpreenda o mundo. É a paixão que fará, um dia, quando vocês estiverem bem velhinhos, dizer que tudo isso, a escolha desta profissão, esta vida inteira, valeu a pena.
Os fragmentos foram retirados do discurso proferido pelo professor Fernando Evangelista, da Universidade Estácio de Sá de Santa Catarina, durante a formatura da turma de jornalismo em fevereiro último.