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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O discurso derrotista da Assembléia Popular

Comento depois.

Primeiro aqui vai o deitorial do último Brasil de Fato, jornal da Assembléia Popular (AP), organização de esquerda que flutua entre a crítica e o apoio ao governo Lula. A AP possui boa interlocução junto ao MST.

Aqui vai o editorial.



Elementos determinantes da campanha eleitoral




Estamos a cerca de 50 dias das eleições mais importantes da vida institucional do país. Vamos eleger presidente da República, senadores, deputados federais, governadores estaduais e os parlamentares das Assembleias legislativas estaduais.

Não há, no entanto, um clima de debates de ideias e de agitação política na sociedade. Parece que as campanhas eleitorais estão engessadas, moldadas por uma legislação que impede uma participação popular mais ativa. Limita comícios e atividades de agitação política próprias da natureza do processo. A burguesia brasileira reduziu a campanha eleitoral à propaganda na televisão, a marketing de pessoas – não de programas – que dependem de esquemas econômicos muito caros. Compra de cabos eleitorais – “militância” paga e material de propaganda sofisticados – se transformaram em fatos normais.

Com isso, tem mais vantagem os candidatos que conseguem maior arrecadações de recursos, junto a empresas, bancos etc., em mecanismos no mínimo promíscuos para quem deseja ocupar cargos públicos e administrar volumosos recursos do povo. Com isso, transformam a campanha num grande mercado eleitoral, onde tudo se compra, tudo se paga. Ou seja, não existem mais cabos eleitorais motivados por ideologia ou programas; não existe mais trabalho voluntário de campanha; não existe mais os métodos populares de debate de ideias, de convencimento, de disputa e agitação política entre militantes e a população em geral.

Período histórico
Neste cenário, há também o componente do período histórico que vivemos. A classe trabalhadora brasileira vivencia uma longa etapa de refluxo do movimento de massas, que vem desde a derrota político-ideológica para o neoliberalismo e a vitória dos governos Collor-FHC.

Então, há muita confusão ideológica e divisionismo, pela derrota política sofrida pela esquerda e pelo abandono das ideias socialistas por muitos setores que levam a todo tipo de desvios oportunistas entre candidatos de todo tipo.

Além disso, há uma desarticulação política das organizações de massa, que reduziram seus programas. Embora, justiça seja feita, houve tentativa de diversos segmentos organizados para discutir programas para o país. Nesse sentido, é louvável o esforço da CUT, com outras centrais sindicais que produziram uma proposta de governo, que está mais à esquerda do que os programas dos partidos. Também é louvável o esforço da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) em costurar um programa de desenvolvimento nacional com a ótica dos trabalhadores, uma espécie de programa mínimo. E foi importante o esforço da Assembleia Popular em debater e produzir um programa de longo prazo, baseado no espírito do Brasil que precisamos.

Porém, todas essas iniciativas, importantes, não conseguiram ainda influenciar e determinar o debate entre os candidatos, em todos os níveis.

Condicionantes do melhorismo
O cientista político André Singer defende – em entrevista publicada na edição 374 do Brasil de Fato – algumas hipóteses que podem nos ajudar a entender o que estaria acontecendo com as massas. Segundo ele, a principal base social do governo Lula e de sua candidata Dilma, seria agora um sub-proletariado, que é a maior parte da classe trabalhadora brasileira. Mas que não tem tradição de organização, nem consciência de luta de classes. Melhorou suas condições de vida, o que o leva a apoiar o governo e sua candidata, mas sem querer disputa e conflitos. É a letargia das massas que apoiam o melhorismo. E são a maioria da população.

As candidaturas a presidente
Entre as candidaturas a presidente, o cenário, seus atores e o script já está definido. Não estão em jogo programas de partidos. As siglas estão mescladas e, às vezes, juntam interesses oportunistas e até antagônicos. Tampouco está em jogo as biografias pessoais, ou compromissos com a classe trabalhadora e os mais pobres. O que está posto são forças sociais que se alinharam com esse ou aquele candidato, e isso está determinando o resultado eleitoral, cujo desenlace terá poucas mudanças até o dia 3 de outubro.

Atrás da candidatura Serra estão as forças do capital mais atrasadas e subservientes ao império. Os grandes bancos, a grande indústria paulista, o latifúndio atrasado de Kátia Abreu e o agronegócio "moderno" do etanol. Seu programa é um só: a volta do mercado, benefícios para as empresas e a repressão para conter as demandas sociais. Seria a prioridade no programa dos três PPPs já aplicado em São Paulo: privatizações, pedágios e presídios.

A candidatura Dilma representa a continuidade do governo Lula e tem forças sociais entre a burguesia mais lúcida (temerosa da reação das massas), setores da classe média que melhorou de vida e amplos setores da classe trabalhadora. Praticamente todas as forças populares organizadas têm sua base social apoiando a candidata petista.

A candidatura Marina, apesar de seus vínculos passados com o PT e o governo Lula, não conseguiu sensibilizar a classe trabalhadora, e reúne apenas forças sociais representadas por setores ambientalistas da classe média urbana dos grandes centros. E por isso seu potencial eleitoral é muito pequeno.

E, por fim, temos três candidaturas de partidos de esquerda, com três lutadores do povo, de compromisso histórico com a classe trabalhadora. Mas nenhum deles conseguiu aglutinar força social organizada. E isso impede progressos eleitorais.

Os movimentos sociais
Os movimentos sociais em geral, e em particular, a Via Campesina, que sustentam a proposta do jornal Brasil de Fato, tem adotado uma postura política de evitar adesões explícitas a candidaturas. Mas todos eles manifestaram publicamente a decisão política de não medirem esforços para derrotar a candidatura Serra. A vitória do tucano seria a volta do neoliberalismo e do desprezo aos movimentos sociais. Quem tiver dúvida basta analisar o que foram os dezesseis anos de governo tucano em São Paulo. E nisso o candidato Serra tem sido honesto. Quando perguntado pelo Jornal da Band o que acha do MST e da reforma agrária, respondeu secamente que iria criar o Ministério da Segurança Nacional. Mais claro impossível.

As forças que o sustentam são a burguesia mais reacionária e corrupta desse país. E, certamente, o Departamento de Estado dos Estados Unidos está torcendo muito por sua vitória, para, com isso, alterar a correlação de forças na América Latina e fazer com que a bússola se mova para direita e para o norte.

Por todos esses elementos, o nosso jornal se soma à decisão política dos movimentos sociais que o sustentam de contribuir para a derrota de Serra, torcendo para que haja mudanças progressistas em todos os níveis das eleições. E que se reative o clima de debate de programas e de ideias na sociedade brasileira.



Voltei.

É triste notar em uma organização com tamanho poder mobilizador um discurso tão infeliz, pessimista. O pior talvez nem seja a análise pessimista e legitimadora do processo eleitoral como algo transformador.

O pior está na mentira, ou tentativa de. Qualquer leitor mais esclarecido notou de bate e pronto que o editorial é uma defesa envergonhada da candidatura Dilma.

Parece realmente que essa esquerda nacional não compreende nada mesmo. Afirmam pensar o Brasil, dizem querer discutir com os trabalhadores um novo projeto, mas vendem o mais do mesmo como solução por hora.

Sejam pelo menos honestos e digam a que vieram e de quem vestem a camisa sem firula que não somos bobos.

Um comentário:

Débora Accioly disse...

Então, primeiramente...

O texto tá meio pobre. Eu gostei mais do resgate histórico. Inclusive, a primeira frase conta com a utilização inadequada de uma palavrinha "acerca"! Desculpa, manias de linguistas.

Convenhamos, de certa forma achei válido o conteúdo do Brasil de Fato, afinal companheiro, temos que ser coerentes com nossas defesas. Lembro de uma conversa nossa sobre a imparcialidade da mídia e etc. Acho que isso ai provaria a total parcialidade da mesma.

Achei muito legal o que fizeram... ao mesmo tempo em que vemos a critica porque os "verdadeiros candidatos de esquerda" não algotinam força, a AP ainda exclui o proprio nome dos candidatos. Igualzinho a grande mídia. Isso que foi interessante! Achei que ao menos o Plínio - celebridade pós-debate - seria citado no supra texto... é, é.

Achei que o texto flutua no morno. Nem faz criticas que não tenham sido ouvidas durante os debates e campanhas da inflamada esquerda!

Fica complicado, até pro leitor "esclarecido" que você chama, perceber uma verdadeira saida à esquerda que não seja dentro do processo instituído.

Me apresente uma alternativa. Sei que tem tantas outras pessoas ansiosas por isso...

É justo que ponhamos a culpa nos "melhoristas"? Qual é a diferença deles pros progressistas? A melhoria não seria um progresso? rsrsrsrs

Te amo, Baco.